sábado, 28 de dezembro de 2013

Balanço 2013

Eis que outro ano se passa, e eu vejo-me novamente tentando escrever sobre o "balanço" do ano. Um ano que tive pressa de acontecer. Sei que isso se deu por estar sendo uma época de transição para mim. Tentei ler os posts de fim de ano passado - os outros balanços - e ler os posts desse ano a fim de tentar alguma síntese. E nada.

O sentimento parece ser esse. E sei que foi muito mais que isso. Foi um ano de conquistas, de concretizações de antigos planos. Foi acima de tudo um ano de estabilidade, e é isso que parece estar incomodando-me. 

Se busquei tão incansavelmente essa tal "estabilidade" e agora cheguei, pergunto, e daí? - a música do Raul não sai de minha cabeça. Não que eu tenha conquistado tudo o que pretendia, longe disso. Penso justamente no sentido da música, de que nunca podemos achar que tudo esteja ganho, que o caminho chegou ao fim, pelo contrário, há muitas coisas para se buscar e isto não limita-se ao plano concreto. Lógico que com o quê eu consegui poderei estender-me e ir muito mais longe. É nisso que estou pensando, e que este ano serviu para alcançar uma base, algo estável para, a partir daí, buscar vôos mais longos.

Foi um ano de tentar cicatrizar perdas que ainda doem - e como! Mas a vivência destas perdas tornaram-me mais forte. Pude localizar no meio ao turbilhão de sentimentos e descompassos que posso enfrentá-los, e que superando-os posso assumir lugares que nunca imaginei ser capaz - de ser um referencial, um apoio vital para outras pessoas que tanto amo. 

Sei que deixei a desejar em vários pontos, e isso me entristece. Ao mesmo tempo sei de minha mania de perfeição, e nesse sentido, consegui deixá-la para trás em vários momentos. Não sei se com isso tornei-me uma pessoa melhor, mas consegui ao menos ter uma consciência mais leve. 

Tive muitos sonhos, muitos desejos que foram realizados e tantos outros que não pude alcançar. E isso deixa-me com a vontade de que nesse ano poderei melhorar, alcançar outras tantas coisas que não dependem apenas de minha condição material, mas sim, muito mais de minha vontade e principalmente de minha dedicação. Enfim, coisas que necessitarão muito mais de mim mesmo de que dos fatores externos, e isso é muito bom! Um ano que surge cheio de esperanças, e só por isso fico feliz. Um ano que seja apenas mais um de tantos outros que desejo serem assim!

Trilha Sonora: "Talking Shit About Pretty Sunset", "Blame it on the Tetons" - Modest Mouse; "Ouro de Tolo" - Raul Seixas. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

...

Eu ainda continuo buscando palavras para tentar descrever o meu sentimento agora. Um ano vai se aproximando de seu fim, e em um contexto que tudo foi diferente. Ainda procuro adiar o tradicional balanço, pois espero outros desfechos. A vida se mostra ainda incontornável em suas surpresas, sejam elas boas ou ruins. 

Busco trechos de músicas, fragmentos de textos perdidos em algum lugar do meu notebook, ou de minha mente perdida e solta em seus devaneios. Ando sonhando com coisas recentes, perdas que ainda não cicatrizaram totalmente. Ao mesmo tempo vislumbro um horizonte belo e possível, que vai de encontro aos meus planos e daquilo que sonhei. Tenho que me conformar com o passível e inadiável da vida, e ainda sim olhar para a frente e acreditar. As coisas vão indo assim, nesse ritmo meio incessante e quase incerto.

De tudo, tiro a lição de que aos poucos vou compreendendo coisas que posso nesse momento entender, e outras que em seu momento certo irão se revelar. Afinal viver é um eterno ensinamento, e, para isso, pausas e retrocessos serão necessários, assim como um tanto de fé inabalável naquilo que se acredita ser o percurso certo. E dessa forma, continuo apenas seguindo. E esperando.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

The Blower's Daughter

(Livremente inspirado em "The Blower's Daughter", música de Damien Rice)



Então é isso. Tudo acabou como começou. Uma brisa passageira, mas que me derrubou. A vida andava fácil para mim. Nada demais acontecia, porém tudo ia bem. Até você chegar.

Eu sei, eu não pude ser seu herói, nem construir seu castelo encantado. Não pude nem ser eu mesmo. Fiquei paralisado, com medo, e os meus olhos não saiam de você.

Apostei todas as minhas fichas, entreguei minha alma. Nada mais importaria, agora era tudo ou nada. Eu não conseguia tirar os olhos de você.

Minha mente se perdeu, as coisas ficaram confusas. Não acreditei que a história seria tão curta e que seus sentimentos eram como o vento. Desculpe, eu apenas quis fugir. Aquilo tudo seria demais para mim. E eu não seria digno de seu amor.

O tempo foi cruel, e quando quis voltar não havia mais nada. Eu sei que você não disse que tudo estava perdido, mas eu senti. E eu estava, e não conseguia parar de te olhar.

Mesmo longe eu a sentia. Vi você andar por ai. Procurava seu rosto em todas as mulheres. E foi assim, como um vento que passou. Ficaram as imagens e seu cheiro. A dor. E mesmo assim, eu não consigo parar de pensar em você. Até...



quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Redemoinhos

Trilha Sonora para este Post: 
Sol no escuro by Fabio Góes on Grooveshark


A vida e seus redemoinhos. Movimentos que vão e voltam, nos jogando quase sempre ao centro, e algumas
vezes às beiradas. Ao centro tudo é mais tranquilo. Vê-se tudo e tem-se a impressão de se estar no controle. E às vezes é uma mesmice só.

Mas é na beira que se entra em contato com outros corpos, com o estranho. Pode-se chocar com outros redemoinhos e desse encontro surgir algo novo. Saí-se do conforto do centro, desestabiliza-se.

Tem dias que quero apenas ficar em meu centro. Não quero nada e ninguém perto de mim. Deixe-me apenas estar aqui e permanecer. A angústia trava qualquer movimento. Parece menos doloroso, a sensação é de estar mais protegido, mais distante de possíveis rotas incertas. Mas corre-se o risco de estagnar, ficar preso a um mundo certo, porém limitado. A mesma angústia que te trava alerta para o risco da morte. 

Se ficar é fácil, sair não é tão simples. Procurar caminhos, rotas e possibilidades se faz necessário. É incômodo, as vezes o redemoinho te joga longe, e com muita força. O choque com o desconhecido pode ser brutal. Mas é preciso enfrentar os riscos e aceitar o que vier. Caso contrário resta apenas ver o mundo girar à sua volta.

Trilha Sonora: "Sol no Escuro" - Fabio Góes; "Venus in Furs" - The Velvet Underground.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Da Existência à Essência


Entre sonhos e devaneios vou tentando achar o que há de real em mim, 
onde no meio disso tudo eu simplesmente existo. 
Realidade torta e malfadada.

Há no cotidiano um misto de complacência e entrega ao simples devir. 
Reflexão. Por quê? E para o quê?
A vida simplesmente insinua possíveis caminhos, deixando-nos à livre escolha. 
Há realmente apenas uma opção que possa ser escolhida? 

Caminho entre fendas aleatórias e caminhos pré-estabelecidos. 
A cada tropeço volto atrás e penso: não poderia ter sido diferente? 
E se naquela queda eu tivesse escolhido apenas cair e entregar-se? 
Quando devo reconhecer que foi uma derrota e devo aceitar? 

Vida cheia de respostas não dadas.
A experiência supera a essência, até onde? 

Há uma natureza da qual eu fujo e sempre acabo voltando. 
Posso realmente acreditar? 
Dúvidas que servem apenas para tentar fundamentar o que já está dado.
Dependerá do que eu puder conciliar e até certo ponto conformar.


Trilha Sonora: "Hey You" - Pink Floyd; "Talking Shit About Pretty Sunset" - Modest Mouse; "Paper Boats" - Nada Surf.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Ao Nada

Tento escrever sobre um vazio que de tempos em tempos abate-me.
Uma vontade que remete ao nada, 
à ausência de todo e qualquer sentido.
É a inércia do corpo somada ao desejo de esvaziar a mente.

Pode ser uma luta, mas uma luta sem razão ou motivos.
É algo como um querer ser o que não se é,
ir contra uma natureza que as vezes se demonstra impassível.

Deve haver alguma essência ai,
mas não é ela que se busca conhecer.

Busca-se fugir.
Não corresponder a este lugar que de alguma forma lhe foi conferido,
seja por seu desejo,
seja pelo trágico destino.

Desejo agora, apenas, apagar.
Desaparecer, nem que seja por um mísero instante.
Sustentar isso que não sei o que é, pesa.
E muito.

Saudades dos momentos de leveza,
de sonho e imensidão.

Agora apenas o silêncio
e um desejo que não cede ao real.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Minha Musa Inspiradora

Trilha Sonora para este post:
True Love Waits by Radiohead on Grooveshark

Todo homem necessita ter a sua musa inspiradora. E esta não é uma mulher qualquer. Ela é especial em todos os sentidos. Consegue enfrentar todas as diversidades da vida mantendo a doçura e sensibilidade. Se aparenta em certos momentos fragilidade, em outros é capaz de derrubar muros para conseguir o que quer. Sua beleza extrapola a aparência física. Internamente revela um mundo fantástico de qualidades e desejos. Por vezes confusos, principalmente a vista dos homens e sua pobre percepção. Toda mulher deve ser assim? Não, mas a minha musa é. E muito mais.

Inicialmente ela me arrebatou com sua beleza: lindos olhos azuis, pele alva e delicada, boca desenhada em lábios carnudos. Pela descrição poderia ser esnobe e gabar-se de possuir tantos atributos físicos. Mas não. É tímida e geralmente calada. Porém quando fala sabe o que diz. Esconde dentro de si uma personalidade forte, idéias convictas, valores de que não abre mão. É honesta, consigo e com os outros. Talvez até cobre demais de si uma perfeição que já a possui. 

Tem um coração tão bom e uma pureza que talvez não se encontre mais nos dias de hoje. Ama a todos com uma espontaneidade que assusta. E ela me conquistou assim, revelando-se aos poucos e sem medo de entregar-se. Por muitas vezes questiono-me se mereço tudo isso, se Deus não errou um pouco na retribuição!

Nossos destinos cruzaram-se quando ambos não acreditavam mais que um dia pudessem conhecer alguém que os completasse, que fosse capaz de dividir os sonhos e as angústias, de se dar as mãos e procurar um rumo juntos. E isto aconteceu de uma forma tão natural que era como se fosse apenas o destino da vida realizando-se. Não houve promessas de amor eterno nem a loucura de uma paixão desordenada. Houve constatações, confirmações de que era para ser para sempre.

Hoje ela é minha companheira, minha amiga, a amante perfeita e esposa dedicada, a pessoa quem mais eu confio e que me conhece por inteiro, do jeito que sou, sem querer mais nem menos. Ela é linda em todos os sentidos, uma alma pura, um anjo, a pessoa com quem quero viver o resto de meus dias e traçar um futuro lindo, cheio de planos e realizações. E haja o que houver eu estarei com ela. 

Certo dia eu sonhei com a música do Radiohead que dizia que o verdadeiro amor espera. E eu esperei. E ele chegou, e hoje vivo com ele, meu real e verdadeiro amor: Hilda Felsinger Carneiro Stacechen.

Parabéns meu amor, por seu aniversário e por ser a pessoa que é. Esse é apenas mais um dos muitos aniversários que passaremos juntos. Te amo mais que tudo!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Fake Plastic World

Trilha para este post:


Como querer adequar-se a um mundo em que tudo torna-se superficial, efêmero e aparente? As formas sobrepõe-se aos conteúdos. Seres humanos ganhando o aspecto de semblantes. Fogem da vivência de uma existência autêntica para assumirem a forma de um avatar, construído apenas com imagens criadas idealmente e constantemente projetadas para o outro observar, desfrutar e logo depois descartar. 

Querem ostentar o que não são, apresentar apenas o "seu melhor". Não há espaço nem tempo para erros, defeitos e desvios de uma normalidade rigidamente construída e consumida por todos. Os fluxos constantes de informação virtual sufocam, entopem todos os sentidos com imagens, sons, e todo tipo de dados. 

Conectados? Com o quê? À uma nuvem?

Vícios novos, vícios cada vez mais inúteis que já não sustentam o sujeito, o levam a uma autodestruição. Busca-se o sentido onde não há algum. Na tradição, religião, ideologias? Faliram há muito. Ai só há destroços, pequenos suportes frágeis e momentâneos. 

O excesso de informação leva apenas a ignorância. Sabe-se muito pouco sobre tudo. E julga-se tudo a partir desta ignorância-pretensa-inteligência. E mais, é obrigatório divulgá-la. "É o meu ponto de vista!". As individualidades exacerbadas diluíram o senso social. Se não se consegue o olhar-para-si-mesmo, imagina para-um-outro? Alteridade? O que é isso?

São apenas os tempos atuais. Fake plastic world


Trilha Sonora: "Fake Plastic Trees" - Radiohead; The National "Sad Songs for Dirty Lovers" - álbum. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Liberte-se

Para minha irmã Zu
Trilha sonora para este post:

Foi um sonho. Tenho quase certeza, era a casa do Portão. Estávamos tão tristes vendo todos aqueles móveis e pequenas coisas que lembravam tanto a vó e o vô. A velha estante da sala cheia de livros. O jardim com a horta e a garagem. Tudo estava lá, menos eles. Talvez eu perambulei por todos esses cômodos e as lembranças brotavam sem parar.

Por mais que eu estivesse triste havia um clima de uma doce nostalgia. Era como se eu estivesse  já compreendendo a mensagem que viria. Ao constatar que minha irmã sofria muito ainda com todo esse cenário, ao sair da casa, eu apenas disse a ela: liberte-se!

Acordei com esta frase na cabeça, e lembrei de minha irmã que ainda vive intensamente todos os dias a dor de enfrentar o luto, convivendo na mesma casa onde tudo lembra minha avó. Recordei a mensagem do sonho, que tem tudo a ver com o que nossa avó representa para nós: liberdade. Ela era um espírito livre. Imaginei o que ela pensaria de saber que há pessoas sofrendo muito com sua ausência e tenho a total certeza que ela apenas diria: "liberte-se".



"Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo
O tempo todo
E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem...

Já que você não está aqui
O que posso fazer
É cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano
Era ficarmos bem..."
(Vento no Litoral - Renato Russo)

Obs.: Ao abrir o Facebook pela manhã eu encontro em um post da Amannda Montanarin esta linda versão de Vento no Litoral, com Renato Russo e Cássia Eller em dueto!


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sol de Outono


Sinto apenas o sol relutante buscando amenizar o leve frio. As cores são outras, as sensações também. Em uma outra segunda-feira qualquer eu estaria angustiado tentando elaborar o fim do ócio. Mas hoje não, uma breve euforia toma conta do ambiente. Vontade amena de apenas deixar o dia escapar de meu controle. Momento de entrega e fuga breve do real. Sei, é apenas um sol de outono, mas isso faz tão bem.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Id


Trilha Sonora para este Post:
Uma lembrança antiga fez despertar imagens que talvez há muito tempo estavam adormecidas: de um ser passional, louco e inconsequente. Inconformado com todas as regras e adequações. Um espirito livre em busca de novidades e aventuras em um mundo inteiro a ser explorado.

Este lado há muito tempo foi sendo sufocado e na verdade nunca pôde se expressar completamente. Porque este ser libertário era também amargurado e consumido pela angústia e que por isso encontrou poucas vezes um lugar para manifestar-se. E o pior que esta prisão fora criada por si mesmo, sempre buscando subterfúgios para justificá-la.

Tinha a mente cheia de ideais e desejos, assim como uma vontade absurda de realiza-los e coloca-los em prática. Mas sempre sucumbiu a alguma força que o reprimia. Andava muito mais à sombra do que à revelia. Vivia mais em um mundo de ideias do que na realidade terrena. Por muitas vezes sentia em seu peito uma vontade extrema de explodir, mas quase sempre acabava implodido.

Por alguns instantes a lembrança tentou trazer esse lado à tona novamente, e foi muito mais difícil. A rebeldia e a indignação estão caladas há um bom tempo. Surgem às vezes de forma civilizada e amena. É possível identificar esse desejo quase apagado, mas querer provocá-lo novamente é tarefa em vão. Há muito ele vem se apagando para quase não mais existir.

Sempre houve o medo e a insegurança, e mais, a sensação de uma iminente autodestruição. Nunca se soube os limites, e não foi possível chegar perto deles. Mas sempre a porra da sensação de que algo prendia, que não se poderia viver essas emoções livremente, e pior, que talvez não se merecesse tal dádiva. E por que não?

O simples deixar fluir e trazer os sentimentos à tona assustavam. Fugia, desesperadamente. As intensas emoções o faziam regredir, fechar-se em torno de si e esperar o turbilhão passar. Mas nunca apenas deixar sair. Quando escapavam, era o terror, o medo, a desilusão.

E por alguns minutos surgiu novamente a sensação de que esse lado pudesse ainda emergir e, dessa vez, talvez espontaneamente ter uma existência autêntica. 

sábado, 30 de março de 2013

Páscoa

Trilha Sonora para este post:

Esta noite acordei de um sonho em que meu avô havia "retornado" à vida e ele questionava quando seria o meu casamento. Eu respondi consternado: "foi em dezembro, vô". A música do Led Zeppelin não parava de martelar em minha cabeça: "babe, babe, I'm gonna leave you". Pensei em como seria se meu avô (e agora também minha avó) estivessem ainda vivos hoje, e o quanto eu sinto falta deles nessas datas importantes.

Isso se deu em meio à Páscoa, feriado talvez o mais importante em uma família ucraniana católica. Lembrei de quantas vezes repetimos os mesmos rituais de Páscoa a cada ano, e o quanto isso era fundamental para meus avós e pais, e de como isso traz à minha memória doces lembranças quando eu era criança e meus avós ainda estavam vivos.

A Sexta-feira Santa era o dia "mais chato", pois todos faziam jejum e nós não podíamos fazer nada, era preciso guarda a sexta, fazer silêncio, e nós crianças não podíamos brincar. O pai e o vô ficavam o dia todo vendo filmes bíblicos, sempre os mesmos! E nós arranjávamos uma maneira de brincar sem fazer barulho e perturbá-los.

Sábado era bem mais legal. Os pães e carnes assando para a benção dos alimentos à tarde. O cheiro do pão da vó assando era inconfundível, e nós já ficávamos morrendo de vontade de experimentar! A noite vinha a missa mais longa do ano, e nós dávamos um jeito de "escapar" da igreja para não ficar o tempo todo lá dentro. Na volta era só alegria, a Ceia e depois ganhar os ovos de chocolate. Impossível esquecer as vezes em que a vó escondia os ovos e nós tinhamos que achá-los!

Domingo era toda a família reunida na casa do vô e da vó: churrasco, adultos bebendo e a criançada solta pela casa. De vez em quando apareciam uns familiares não sei da onde. Era a maior bagunça. E como faz falta lembrar de como era tudo isso.

Essa será a primeira páscoa sem a vó, que veio a falecer em setembro passado, e tudo já parece estar sendo diferente. Fica uma sensação de que todas essas tradições só faziam sentido com eles por perto, mas sabemos que não deve ser assim. Por isso resolvi fazer a minha própria Paska ucraniana, pois agora tenho também minha família (que por enquanto é só eu e a Hildinha!), e quero muito manter estas tradições que dizem tanto sobre  minhas origens e o que representa minha família: uma união, uma linda união que vai se mantendo, mesmo com a geração mais velha não mais existindo. E acima de tudo quero que meus filhos tenham as mesmas doces lembranças que tenho de minha infância durante a Páscoa!

Trilha Sonora: "Your time is gonna come" - Led Zeppelin
Obs.: "Babe I'm gonna leave you" ficaria muito pesado para este post!

terça-feira, 26 de março de 2013

Consciência/Ausência



Trilha Sonora para este post:

Tudo tão quieto. Tem dias que minha mente voa tão longe que chego a ouvir o silêncio das alturas.   

Como se flutuasse na imensidão azul e apenas o lento passar das nuvens dispersasse minha atenção.

Perco-me nesta ausência de sentidos e quando me dou conta estou ainda aqui, na terra, realidade mundana. Sei que é uma maneira de ausentar-me e fugir de minhas pequenas obrigações. É um “deixar-de-ser-a-si-mesmo” momentâneo, espaço temporal necessário para recomeçar tudo de novo.

É sempre assim, e tenho plena certeza disso. Já conheço o roteiro, as fugas rápidas da realidade e a entrega em livres pensamentos. Memórias antigas, sensações atuais e desejos futuros misturam-se constantemente. Gostaria de poder relatá-los, mas logo os perco na troca por tantos outros.

E assim a minha segunda-feira passa, mesmo com toda procrastinação e o lento arrasto das horas. 

Trilha Sonora: Nada Surf "Neither Heaven Nor Space".

quinta-feira, 21 de março de 2013

[Conto] A Woman Left Lonely Again

Trilha Sonora para este post:
Ela partiu sozinha novamente. Acordou de sonhos horríveis e decidiu apenas viajar. A realidade estava a torturando demais. Em meio a um delírio teve a ideia de ir a Foz. Sempre sonhara conhecer as Cataratas. Desde que o pai a deixara na Rodoviária de Paranaguá, aos sete.

Foram tantas coisas nestes anos. Foi a Mãe adoecendo e caindo aos seus braços. Pedro que nunca mais viu.  Como será que ele está? Grande? Bonito?

O que é minha vida? No que se transformou?

Lembrou de quando era uma garotinha e a última imagem do Pai, fumando um cigarro enquanto prendia o gado. Eram tão felizes. Sua Mãe não. Ao chegar na cidade veio a perdição. Promessas e encantos, jovens e velhos. Tudo era novidade. A Mãe cada vez mais infeliz. O Pai e o Bar.

Perambulando pelas ruas conheceu tudo. O Inferno e o Céu estavam ali, tão próximos e fugazes. João foi o primeiro. Depois veio Francisco, o Velho. E Papai, onde estava?

Foi a primeira vez que partiu, e o seu coração junto. Queria a vida, os infortúnios e a felicidade. Podia ser a dor, mas era a liberdade, acima de tudo, o que buscava. 

Andou e andou por ai. Rodou os tantos cantos deste país. Conheceu Maria e também a Solidão. Parou no Hospício, por três anos, e ali desconstruiu tudo. Achou seu Pai, seus Fantasmas e o Diabo. Saiu. Viajou, novamente, demais.

E agora, indo novamente, onde dará?

Trilha Sonora: "Jukebox", álbum - Cat Power. "Woman left lonely" - Janis Joplin.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Desconectado

Trilha Sonora para este post:
Olhar para si mesmo e achar que algo está errado. 
Sempre falta. Ou transborda. 
Encontrar o tal “equilíbrio”, a homeostase.

Preso entre o desejo e a censura. 
Quero! Posso?
Onde e como?

Sair da zona de conforto e enfrentar a imprevisibilidade do devir. 
Isso pode significar perder o que já se conquistou.
Ou não.

O que mata mesmo é o imaginar. 
É bom sonhar, projetar, deixar-se entregue aos devaneios.
Mas e a realidade? Enquanto eu sonho a vida acontece.
E a perco, o tempo todo.

Onde eu estava quando aqui tudo acontecia?

Sobra-me o passado a analisar. O futuro a criar.
E o presente? Por que nunca o alcanço?

Quem é esse Outro que tanto me demanda?
Por que o encontro com o outro me choca? 
Qual o seu desejo?
Não me vejo e tento reconhecer-me.

Desconectado.

Queria apenas viver como tudo se é.

Trilha Sonora: “Faust Arp”, “Reckoner” e “Nice Dream” – Radiohead; “Life on Rain” – Remy Zero.

segunda-feira, 4 de março de 2013

[Série Psicanálise] Alma Melancólica


"The Murderess" (1906) - Edvard Munch

Trilha Sonora para este post: Can't Stop by Elbow on Grooveshark



Tem dias por mais que estejamos bem, dispostos e até alegres, somos tomados de repente por uma sombra. Podem ser sentimentos nostálgicos, certa introspecção ou apenas uma mudança repentina de humor e sensações. Às vezes é uma música que ouvimos que nos remete a um passado que já algum tempo não tomamos contato, e que talvez tenhamos tentado esquecer ou afastá-lo, mas, que mesmo assim, ele insiste em retornar. Ou um flash contendo imagens e sensações que surgem do nada em nossa consciência, deixando-nos assim, meio parados, com o pensamento distante.

Já cheguei a conclusão que existem pessoas, que como eu, tem uma “alma melancólica”, e isso muitas vezes faz muito sentido. Quando penso no mundo de hoje, com seu imediatismo, superficialidade e excesso de informação, vejo-me deslocado, como se vivesse em outro tempo. Tento adaptar-me ao tal ritmo e as diferentes configurações atuais, mas parece que sempre chega uma hora em que falho, penso comigo mesmo: “eu não sou assim, não consigo ser desse jeito”, e então sinto culpa e logo em seguida uma certa tristeza por “ter falhado”.

Quando reflito (a reflexão, outra ação que os habitantes na vida atual tentam desprezar ou ignorar) sobre o porquê desse sentimento, percebo que não há nada de errado em sentir-me assim, que a “tristeza” (seria a angústia o termo mais correto) é condicionante humana e que os tempos modernos tendem  a querer eliminá-la de qualquer forma, e sabemos, ela irá retornar, de alguna forma, talvez como sintoma ( como depressão, ansiedade, fobias e pânico, p. ex.).

Então penso que minha angústia é “sadia”, no sentido de que não quero abrir mão de um sentimento que é o que me faz humano, na medida em que ainda tento sentir e viver este mundo da forma como ele é: imperfeito e incerto, e que uma hora ou outra irei falhar, ou não conseguirei “acompanhar” o ritmo da “carruagem”, e então “cairei”, e por que não, levantarei meio “ralado” e começarei tudo de novo! É assim que as coisas são e livrar-me desta tristeza fará com que eu deixe de realmente vivenciar a complexidade que é esta experiência de existir.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

[Conto] A paixão-droga

Não consigo descrever o que senti naquele momento. Foi uma chance, apenas uma. E fugi. Talvez isso já tenha começado da primeira vez que a vi sentada naquele sofá. As pernas dobradas, cabelos longos e soltos, um olhar lânguido e sorriso dissimulado. Pareceu uma cena de filme: eu entrando, meio que perdido sem ter onde ir, esperando encontrar algum conhecido para sentir-me mais familiarizado com o ambiente, e dou de cara com toda aquela beleza esparramada pelo sofá. Dei um “oi” tímido, quase que as palavras não saem da minha boca. Ela voltou o olhar para mim e retribuiu com um “olá” firme e um sorriso que encheu a sala. Tremi, suei frio. E agora?

Fiz de  conta que procurava alguém que não achei e sai da sala. Demorei uns dez minutos para recompor-me e entender minha atitude. Depois daquele “encontro” relâmpago ela tornou-se meu amor platônico, minha “musa imaginária”. Nunca interpretei aquele “oi” sexy como algo concreto. Para minha ingenuidade juvenil ela era assim, sempre simpática com todos. Muito tempo depois pude compreender que ali havia uma brecha e que meu “platonismo” poderia tornar-se algo real. Porém emocionalmente eu era muito imaturo. Era alguém incapaz de acreditar que uma garota como aquela iria querer alguém como eu. Tinha uma autoimagem degenerativa e muito deturpada. Resultado de uma série de perdas e fracassos que minaram minha autoestima.

Mas eis que um dia, quase um ano após essa primeira vez em que nos esbarramos, encontro minha musa em uma festa. Ela já de cabelos mais curtos e um visual “cult”. Por que além de linda e sexy ela era uma intelectual. O que fazia com que eu tremesse mais ainda perto de sua presença. Toda minha inteligência e saber acadêmico – que talvez fosse minha maior qualidade – sumiam perto dela. Porém aquele dia tudo foi diferente.

 Quando chegamos, eu mais meus amigos junkies (só andava com as piores espécies), a festa estava um “porre” (no mau sentido). Quero dizer, todos estavam extremamente comportados e civilizados, “bebendo socialmente” e conversando como legítimos acadêmicos que receberam uma educação primorosa. Logo fomos fazendo jarras de bebidas realmente alcóolicas e distribuindo pela festa. Uma mesa de baralho foi acionada e a gritaria do Truco começou. Rock n’roll na vitrola e agora estávamos em uma legítima festa universitária. Não demorou uma hora para o ambiente virar de ponta cabeça. Todos conversando - praticamente gritando, alguns copos e pratos quebrando e aquela louca euforia juvenil. Alguém teve a ideia de fazermos um baile, e por aquelas horas, um baile no mínimo freak. Após as danças mais bizarras e as músicas mais agitadas, começou o mela-cueca. Casaizinhos colados mais se esfregando do que dançando, assim como nos bailinhos que nossos pais faziam pelos anos 70. Logo trocavam o meio do salão para os cantos e paredes mais escuras.

Eis que retiro minha musa para dançar. Para mim, na minha “cabacisse”, seria apenas uma chance de chegar perto de meu objeto de desejo, que até aquele momento existia somente em minha imaginação e sonhos. Era a “chance” de tocá-la, sentir seu calor e perfume. E foi muito mais do que minha vã imaginação poderia criar. Foram minutos mágicos, de uma intensidade inebriante. De repente tudo sumiu naquele salão. Eu não estava mais em uma festa com outras tantas pessoas bêbadas. Era eu e minha deusa flutuando em um limbo temporário. Para mim esta dança bastava, era muito mais do que eu imaginava um dia desfrutar.  Mas foi além. Quando consegui olhar em seu rosto e ver aqueles olhos amendoados fitando-me, entrei em êxtase, minha consciência sumiu e quando me dei conta do que estava acontecendo, ela beijou-me loucamente. Além de linda, sexy, inteligente, era devassa. Enlouqueci enquanto ela praticamente engolia-me num beijo ensandecido. Nossos corpos fundiram-se em pleno salão.

Depois daquela reação química explosiva, inexplicável, sentamos e conversamos muito. Sobre tudo. E cada palavra que saia daquela linda boca se tornava poesia, fascinava pela forma como se articulava, como seu pensamento era vivo e perspicaz. Havia senso crítico ali, bom humor e nenhuma vaidade. Ela era assim, não forçava ser outra coisa, parecer diferente ou impressionar. A sedução estava em seu sangue, em cada pedaço de seu corpo e em cada gesto, olhar ou ação. Ou era apenas meu deslumbramento que atingia níveis inimagináveis.

E foi ai que me perdi. Cheguei onde imaginava nunca chegar. Experimentei a droga mais potente que há em nossa civilização judaico-cristã: a paixão romântica. A paixão-droga, aquela que repentinamente te tira da realidade e proporciona prazeres intensos e voláteis, que causa uma abstinência terrível ao faltar. Por minutos é como se tudo fizesse sentido, toda a angústia e dores do mundo sumissem. Você projeta um futuro sem sofrimento só pela presença de seu objeto. Sua ausência causa terror e sua proximidade pânico. Neste caso ausência significaria rejeição. “Estávamos bêbados, e se ela não quiser mais?”. Este pensamento colocava-me em pavor. Como chegar perto novamente? O que fazer?

No outro dia minha vontade era correr, sumir, ficar longe daquela substância tão poderosa que fez meu mundo desaparecer. Fez esquecer por minutos quem eu era e o que fazia ali. Por um instante desapareceu o menino tímido e fechado, porém sem a droga, tudo voltaria novamente: a dificuldade em relacionar-se, em exprimir o que queria e sentia, a falta de iniciativa e melancolia. Eu precisaria daquelas sensações novamente para achar que eu era normal, que era extremamente confiante e sedutor. Ao lado dela eu seria um super-homem, o “cara”, e conseguiria tudo o que desejasse. Teria forças para enfrentar o mundo e todas suas adversidades. Teria planos, realizaria sonhos e caminharia sempre para algo melhor. Mas sem ela eu era nada. Triste, fechado e complacente com minhas incapacidades em realizar-se.

Era isso que assustava.  E foi isso que me levou longe dela. Fugi, pois aquela realidade era intensa demais. Era meu desejo em sua concretude extrema. Era um poder maior do que eu e minha simples existência. Retirei-me novamente para meu casulo e ali permaneci por anos culpando-me por não ter conseguido resistir à angústia e ter transformado aquele sonho colorido em uma realidade próxima e tranquila. A idealização fugia do controle. E o sentir foi real demais para mim. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Trem da História [Conto]


Onde estou? Em que mundo ou realidade paralela eu vivo – pensou Carlos enquanto tomava uma xícara de café observado o bosque que circunda sua sala de trabalho. Lembrou de uma sessão de análise em que formulou uma metáfora de que achava ser sua vida um filme que ao invés de ele ser o diretor era mero expectador. Era como se ele posiciona-se fora de si e visse as coisas acontecerem quase sem ter controle. E à essa ideia chegou após constatar que perdera muitas oportunidades na vida apenas por não percebê-las, negando sua realidade e sempre desligado com a mente vagando por longos devaneios e sonhos acordados.

Enquanto sua mente perdia-se na criação destas estórias fictícias, a vida concreta acontecia bem em frente aos seus olhos e boa parte disso ele perdia, ausentava-se ou mesmo negava. Assim não aceitou um emprego por achar que não era bem o que ele imaginava, que poderia esperar por uma vaga que correspondesse exatamente o que sonhara, e assim viu um colega seu assumir a vaga e meses depois ser transferido para Florianópolis, como diretor.

Teve a vez em que estava numa crise terrível no seu namoro com Sabrina. Esta queria abandoná-lo, mas não tinha coragem. Ao invés de terminar o relacionamento, Sabrina o enrolava, dava desculpas para não vê-lo e fingia tudo estar bem. Enquanto isso Carlos foi deprimindo-se, buscando alívio no álcool e internet. Em uma das noites de bebedeira em frente ao computador conheceu Larissa, que estava solteira e apaixonou-se por Carlos. Este ficou com o dilema entre tentar reerguer o namoro capenga ou arriscar uma nova aventura. Por sua lógica fantasiosa e medrosa preferiu continuar aquela relação insatisfatória, mas confortável. Teve medo de perder Sabrina e ao mesmo tempo não dar certo com Larissa. Ficou com o álcool, pois logo Larissa caiu fora ao ver que ele não daria um passo a mais e não a chamaria para um encontro.

Era um medo do novo, de arriscar-se em busca de outras saídas e uma aceitação quase cega de que tudo aquilo que acreditava ser seu destino. “Era para ser assim e pronto”. “Larissa seria um sonho de mulher caso não houvesse Sabrina”. “Aquele emprego seria ótimo se eu já não estivesse empregado agora” – era assim que ele pensava naquela época.

Passado algum tempo, ao constatar que perdera algo que poderia ser muito recompensador, angustiava-se em diversos pensamentos culposos,  imaginando como teria sido. Ou como seria se estivesse vivendo outra vida agora, como por exemplo, com um emprego legal, uma mulher que lhe desse atenção e fosse maravilhosa. E quando olhava o que tinha, um emprego medíocre mas garantido e uma falsa namorada mas que não o abandonava, achava que era o que podia ter, que deveria aceitar sua realidade ao invés de ficar criando estórias fantasiosas e idealizadas.  

Era uma constante luta entre sua realidade mesquinha e constante e seus sonhos loucos e idealizados. Ele se imaginava com aquela gata estagiária do setor de compras, mas no dia-a-dia mal a encarava para cumprimenta-la. Achava que pelo fato do gerente ter saído com ela não daria bola para um mero assistente.  Mas nunca tentou uma investida para confirmar se isso era verdade.

Na real era muito mais fácil sonhar e criar estórias maravilhosas em sua mente do que tentar procurar soluções concretas e reais. Com certeza a realidade seria bem diferente de sua imaginação e as coisas não teriam um andamento e fim como ele havia fantasiado. Poderia ser bom, ruim ou nada. Mas seria real. Melhor ou pior, teria uma existência verdadeira ao invés de serem apenas estórias irreais que além de só existirem em sua cabeça apenas serviam para desviá-lo da realidade que acontecia irredutível à sua frente e que ele quase que inconscientemente não a via.

“Quantas vezes você perdeu o “Trem da História”Carlos?” – perguntou sua analista certo dia. “Muitas vezes, e em quase todas eu ainda vi o trem saindo da estação, Doutora” – respondeu abismado e completamente confuso. 

Trilha Sonora: "Vida Que Não Pára" - Odair José. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ressaca (2012)

Sinto-me ainda como se 2012 não houvesse acabado, como em aqueles porres que dois dias após você ainda sente os efeitos da monstruosa bebedeira. Neste caso foi um ano em que fui atacado por uma “avalanche” de acontecimentos, mudanças, sentimentos, perdas e ganhos, tanto que não consigo ainda elaborá-los muito bem. 

E essa ressaca traz ainda um sentimento de vazio pelo início do ano, como se tudo tivesse voltado ao “normal”, ou seja, à escassez ou os poucos acontecimentos que a vidinha cotidiana nos oferece sempre, e isso acaba tornando o início do ano um pouco “chato”. Não que eu quisesse mais mudanças e sobressaltos, apenas que a sensação é de que o ano ainda não engrenou. 

Como toda ressaca é necessário recuperar-se. Deixar a poeira assentar, cuidar de tudo e não ter pressa. Aos poucos as coisas irão encaixando-se. 

Sinto na verdade uma enorme preguiça de começar tudo – principalmente de trabalhar e realizar algo de útil. A entrega ao ócio contaminou-me no recesso e agora sofro a “abstinência de vagabundagem”, ou seja, não aceitei ainda que o ano já começou e agora é “para valer”! Mas é assim que a vida é: sempre diferente daquilo que imaginamos, ás vezes um pouquinho melhor, mas sempre um pouco pior do que sonhamos! 

Trilha Sonora: Tame Impala "Feel like we only go backwards".