quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Férias

Estou finalmente saindo de férias. Retomei a escrita no último mês após um período de bastante trabalho e assim que consegui um tempo livre voltei a escrever. Sei que não posso ficar sem escrever, é um exercício contínuo que necessito cultivá-lo. 

Mas agora sairei "totalmente" de férias. Isso significa querer sair do ar realmente, mudar de ambiente e totalmente de rotina. Preciso disso. Necessito desligar-me um pouco desse mundo digital que, apesar de ter servido-me como via de escape para a rotina massante, também exige uma ausência temporária. 

Enquanto proletário, mereço essas malfadadas "férias" que, no capitalismo, corresponderiam à migalhas "recompensadoras" por um ano inteiro de serviço e entrega, de corpo, alma e tudo mais o que puderem sugar. 

Portanto irei tomar os meus "bons drinks", em uma praia, de chinelo e bermudão. Também tentarei ler algo o mais tranquilo o possível (chega de sociologia, ciência política, psicanálise, saúde pública e o escambau!) e se possível, se a inspiração bater nos momentos mais etílicos e eu achar alguma lan, sairá algum post por aqui. 

Agora resta-me a estrada, rock n'roll no som e a expectativa de momentos de agradável entrega ao ócio puro e simples.

Obs.: Ah, um feliz ano-novo àqueles que aguentaram ler isso até aqui!

Trilha Sonora Recomendada: Rolling Stones, B. B. King & Eric Clapton, The Black Crowes, Nada Surf, Reggae & Ska, Tim Maia, Jorge Ben.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Melancholia - parte I

Duas da tarde. Copo de conhaque pela metade. No cinzeiro cheio um cigarro queima. Apoiado no balcão, olhando para o mar, Carlos perde-se. Pensamentos, imagens, dor, alegrias.Tudo surge ao mesmo tempo. Chove bastante, um friozinho que até lembra o outono, apesar de ser verão.

A praia está vazia. Trata-se de um balneário distante de difícil acesso que fica vazio a maior parte do ano. Carlos foi para lá justamente para não ver ninguém. Queria escrever, escrever muito. Há meses sentia a angústia o corroer e não manifestava nada. Calou-se.

Os dias passavam arrastando-se. O álcool o alimentava constantemente. Em alguns dias perdeu totalmente o senso de tempo. Não havia relógios nem calendários. O celular foi jogado no mar. Ninguém sabia para onde ele havia se mudado depois que largou o emprego. Estava realmente só.

As vezes acordava de madrugada achando já ser dia. Pegava uma folha, uma bebida e começava a escrever. Houve um dia que escreveu mais de oitenta páginas compulsivamente. Foram alguns meses assim. Praticamente não saia de casa, somente para comprar bebidas, cigarros e alguma comida. 

No auge da bebida tinha delírios terríveis. Imagens do passado, vozes e pessoas que a tempo não via iam o visitar. Conversou com seu pai que há 10 anos havia falecido. E o pior, a risada das crianças e a voz de Julia que não parava de chamá-lo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Balanço



O fim do ano se aproxima e a sensação é de ressaca. Parece que o "saldo" do ano é sentido de uma vez só, agora, nesses últimos instantes de 2011. Ano cheio, muito trabalho e até que se conseguiu uma rotina mais ou menos estruturada. Foi um ano estável, até se poderia dizer. Teve seus percalços, alguns altos e baixos. Mais no geral fica-se uma sensação de ter sido um ano mediano, sem muito para comemorar mas também pouco a se lamentar.

A vida continou com seus passos lentos e algumas surpresas. Foi um ano de confirmação, de continuação de um processo que se iniciou há dois anos, e por isso foi bom. Mas foi previsível, e deve ser assim mesmo. Parecemos lutar a vida toda por alguma estabilidade, e quando a alcançamos, fica um vazio. Chegou-se onde queria. Tá, mas e agora? Para onde ir?

Diriam: novos planos, novos caminhos. Ok. Mas alguns desses novos caminhos exigem espera, que oportunidades e aberturas apareçam. E enquanto isso vamos levando nossa vida como dá. E digo, não é ruim não!

Talvez a sensação de vazio seja só pela chegada de mais um fim de ano. E ai começamos a querer fazer balanços como esse daqui. Confesso que não gosto mais de fim de ano como gostava antes. Agora só espero por férias. Natal e ano-novo deprimem-me, e nem sei dizer o porquê. Talvez seja pelos balanços mesmo, que parecem nunca quererem fechar... sempre falta, ou sobra.

Trilha Sonora: Smashing Pumpkins "By Starlight".

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Psicanálise II - ou O bloqueio

(Da série "Psicanálise" - ver "Psicanálise I - ou o retorno do recalcado")

Tenho uma estranha impressão de que me cerco em uma barreira imaginária que me isola dos outros. Como se criasse uma "proteção", um empecilho para que os outros não cheguem a mim - ou pelo menos tão perto de mim.
Sinto que à pouquíssimos consigo confiar uma abertura maior, como se poucos pudessem transpassar esses limites que ergo e realmente conhecer-me melhor. É como se entre o "eu" e o "outro" houvesse um espaço vazio, uma "zona de conforto", em que barro a maior parte daqueles que tentam algum contato maior. E isso as vezes é constrangedor.
Sei que isso tem a ver com privacidade, e também com uma característica minha de ser reservado e até contido. Mas confesso que isso as vezes incomoda. Vejo que muitos realmente se afastam ao sentir esse bloqueio. Sinto que vez ou outra sou mal-compreendido e passo uma imagem de inacessibilidade ou até arrogância. E sei que isso também já foi muito pior e de onde veio, de uma pessoa que admiro muito mas que nunca se abriu totalmente à ninguém. E isso é triste.
Pode ser uma defesa qualquer, narcísica como toda defesa. Pode ser uma tentativa de fuga , de si mesmo , contra uma natureza supostamente inaceitável e que deve ser escondida. Mas acima de tudo lembra-me Sartre, assim como a malfadada castração: "o inferno são os outros", e esta frase tem diversas significações.
O encontro com o outro revela-me, mostra as fraquezas e limitações. Este outro pode vir a conhecer minha verdade, a de que não sou realmente bom como gostaria de ser e de que tanto esforço faço para demonstrar sê-lo.

Corro o risco de perder, e por isso não entro no jogo. Não vou até as ultimas consequências. Preservo minha frágil integridade assim: correndo, afastando, escondendo-me. O contato com o outro torna-se "inferno". Até quando? Há tanto o quê esconder mesmo?