quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Desligado

Acho impressionante a capacidade que tenho para desligar-me de minha rotina quando entro em férias. Algumas pessoas já relataram-me necessitar de alguns dias ou até uma semana para realmente "curtir" as férias. Já eu não. No mesmo dia que saio de férias sinto me "livre".

É estranho pensar assim, pois essa rotina que falo é a preponderante em pelo menos 11 meses do ano. É a minha vida cotidiana, o meu ganha-pão, meu meio de sobrevivência. Sendo assim não é estranho o sujeito sentir-se "preso" durante os 11 meses e somente em 1 mês sentir-se realmente livre, de bem com a vida? Seria como se trabalhássemos 11 meses para pagar e desfrutar apenas 1!

É realmente uma contradição. E se só eu pensasse assim estaria preocupado, mas quando vejo dezenas de posts no twitter e facebook de trabalhadores desesperados contando os dias e horas para suas férias, vejo que não estou só. Ai lembro-me de Marx e o quanto suas palavras ecoam até os dias de hoje. Por que o trabalho, que deveria ser algo prazeroso e dignificante, é sentido como uma "prisão", uma coação?

Não quero entrar na discussão sociológica do trabalho, afinal estou de férias e isso incluí a sociologia também. Mas acho que trabalhamos demais em troca de pouco, muito pouco. Pelo menos os assalariados como eu. É fácil constatar isso. Dormimos pelo menos 8 horas por noite e trabalhamos no mínimo 8 horas por dia (no meu caso essa conta beira às 10 horas se for considerar todo o tempo dedicado ao trabalho). Restam talvez 8 horas que seriam tempo livre - seriam, pois quem mora em uma metrópole (que não é mais meu caso), deve perder pelo menos 3 horas em transporte. Sobra então, 5 horas. Descontados o tempo para necessidades básicas (alimentação, higiene, cuidados da casa, carro, cachorro...), quanto resta?

Lógico que a finalidade do trabalho não é somente ganhar algum dinheiro para a diversão. Nos realizamos enquanto sujeitos ali, damos algo de si, produzimos algo muito subjetivo (e é justamente esta subjetividade que o capitalismo fez questão de excluir no modo de produção). Mas ninguém pode negar que a grande felicidade do trabalhador é receber e torrar tudo o mais rápido possível - o que não dura muito mesmo! Ou seja, que trabalhamos duramente esperando a hora de poder usufruir e que o pouco tempo livre é sentido como uma recompensa pelo tempo sofrido e trabalhado. Dessa maneira realmente a balança está descompensada, pois é muito trabalho (sofrimento) para pouca diversão (prazer). E tenho realmente esforçado-me para mudar essa relação.

 Porém chegam as férias e ai não penso mais em nada! É pura entrega ao ócio. Sou o melhor do melhor do mundo em não fazer nada. Encontro o que fazer nas tarefas mais banais, nos tempos mais ociosos. Não olho para o relógio, faço o que "dá na telha". Aí penso: "isso que é vida"! Completamente desligado, minhas férias voam. E ao término - aí meu irmão, as coisas complicam. A volta é dura, parcial, lenta. É o preço que se paga por abdicar tão rápido e completamente dos modos de funcionamento da sociedade atual, que exige no mínimo que o sujeito entregue-se de corpo e alma ao trabalho.