sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Comes a Time

"I'm on the outside of love
Always under or above
I can't find my way in
I try again and again"

(Nada Surf - "Inside of Love")

E naquela noite eu não beijei aquela linda garota. Eu estava mal. Um coração mordido e ainda muito magoado. Mas ai surgiu aquele sorriso lindo. Aqueles olhos azuis que paralisam. Seu jeito meio desconcertado encantava-me. Passei a noite toda falando muito, querendo convencê-la de que eu era interessante. E ela apenas sorria. Apresentava e escancarava aquela doçura toda. Como nenhum homem percebeu isso até hoje? – Eu me perguntava incrédulo. Este ser existe?

Existe, e hoje vive comigo. Mas naquela noite eu achava-a impossível. Não era para mim, tudo aquilo. E ela sorriu por muitas outras vezes. E eu queria acreditar que era para mim. No fim da noite, após tanto papo e encantamento, eu tentei. Ela virou o rosto. Nessa hora eu caí. Era tarde demais. Aquele sorriso não voltaria a sorrir para mim.

Fui para casa. Dirigindo e ouvindo Nada Surf. Era “Comes a Time”, a música mais triste deles. E cheguei decepcionado comigo mesmo. Por que não consegui beijar aquela linda garota?

Talvez fosse destino. Até hoje eu não sei. Mas eu beijei ela depois. E foi mágico. Dali em diante, a história encarrega-se de contar isso. Mas naquela noite, na fatídica noite que eu não a beijei, eu pensei que tudo havia acabado. E era só o começo de tudo...

domingo, 5 de outubro de 2014

Saudades de você

Nesses dias em que passei longe de você, a solidão parecia castigar-me tanto. E apenas uma música do Tim era capaz de apaziguar meu coração. E era sobre você. Apenas você..


Eu amo você (Tim Maia)

Toda vez que eu olho...
Toda vez que eu chamo...
Toda vez que eu penso...
Em lhe dar o meu amor...
Meu coração... (pensa que não vai ser possivel)
De lhe encontrar... (pensa que não vai ser possivel)
De lhe amar... (pensa que não vai ser possivel)
De conquistá-la...

Eu amo você, menina...
Eu amo você...
Eu amo você, menina...
Eu amo você...

 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

E no fim havia o meio

"O prazer é a redução do desconforto físico de existir" - Platão



Tento resgatar algo de mim que se perdeu. Não sei ao certo o que seria. Nem como se foi. É uma parte considerável de mim que mudou, sem eu querer. Talvez seja apenas uma transição, e essas fases costumam ser confusas.

Essa sensação de que alguma coisa importante está faltando e, ao mesmo tempo, de que algo precisa ser feito para reverter isso. Mas o quê?

Toda vez que certo equilibro (ou seria estabilidade?) é alcançado, o mesmo e velho sentimento surge gerando inquietação. "Ainda é cedo". É muito cedo para apenas parar. Onde estão as novidades, a agitação e o desconforto? 

Será que a vida não pode ser apenas contemplada? 

Por que a necessidade de sempre se querer e arriscar mais?

Talvez a paz e a tranquilidade não sejam um fim. São só um meio.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Uma dose de ilusão

Hoje eu só queria uma dose de ilusão. Somente uma.
Há um ar carregado. Há essa preguiça que arrasta meu corpo.
Sono. 

Qualquer som, qualquer coisa que distraía. 
Tudo menos começar o dia. 
Voltar a si, ao redor. Por que?

Deve haver algum lugar onde tudo some.
Onde não se possa encontrar ninguém. Nem eu.
Apenas imagens e ruídos.

Se faz necessário sair. Respirar.
Abrir o que não se quer. 
Não deixar apenas calar. 

Trilha Sonora: Portishead: "Live in Rosenland" (álbum).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O peso do Eu

Há dias em que o mundo pesa. Após as horas se arrastarem continuamente surge a sensação de que se carrega muito mais que o próprio peso. 

A alma está cheia, repleta de impressões, afetos confusos e principalmente ideias absurdas. 

Ai chega-se a conclusão de que é muito difícil ser-o-que-se-é.

Ser aquilo que você projeta como ideal. O profissional capacitado. O bom marido e trabalhador. A pessoa compreensiva e sociável. O cidadão de bem que paga seus impostos. O “Eu” abrange tudo isso e muito mais. 

Há ainda – e que pode ser muito mais intensa - a pressão interna de querer realmente corresponder a esses modelos, de dar conta e, mais ainda, ser “perfeito”. 

Internamente as coisas se tornam mais complexas. Há um passado que às vezes clama por reparações. Há as expectativas futuras. Há uma cobrança de si que foge da livre consciência. 

Essa apercepção de que há algo te puxando, exigindo cada vez mais, torna-se aparente quando confrontamos nossos desejos com a realidade, e nesse embate surge a culpa, a angústia de não poder-ser-o-que-se-almeja. 

Dói, mas não se sabe por que.

Prefere anular-se a enfrentar os caminhos tortuosos que levariam ao final épico, grandioso e sublime. A mente perde-se em tantos devaneios e artifícios a fim de se suportar o não-enfrentamento do desejo e suas consequências. 

E eis que se chega à questão: por que suportar esse peso? 

Trilha Sonora: Radiohead – Amnesiac (álbum); Remy Zero – “Hermes Bird” e “Life in Rain”; Black Rebel Motorcycle Club – “Long Way Down”.  

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Sonho da Encruzilhada


Eu estava trabalhando. Era uma sexta-feira chuvosa e um pouco fria. Fiquei um pouco invejoso de saber de duas colegas que estavam indo comprar cerveja, pois já havia acabado o expediente para elas. De repente eu estava em Morretes, na estradinha que vai para o Parque Cascatinha. Parei para perguntar qual era a mercearia mais próxima, se a do Cascatinha ou do Bonito (na realidade Bonito é uma localidade próxima à Lapa, onde faço visitas de vez em quando devido ao trabalho). O senhor informou-me que Bonito era logo ali. Segui então por esta estrada e cheguei num local cheio de pousadas, e ao lado de uma dessas iniciava uma trilha que era cercada pela mata ao lado e o chão era todo de madeira. Quando eu ia adentrar à trilha, fui acordado, já era hora de levantar-me. 

Esse sonho ocorreu em um cochilo de talvez dez minutos, entre o primeiro momento que acordei e acabei por cair no sono novamente. Foi um sonho interrompido, e devido a isso lembrei-me dele completamente ao acordar. E ele não me saiu da cabeça até agora. Aquela trilha já apareceu em outros sonhos meus. Era uma trilha muito bonita, que me despertou diversos significados e tentativas de compreendê-los.

A estradinha para o Cascatinha, lugar mágico em que passei muitos momentos inesquecíveis em minha infância e adolescência. Era por ali que íamos buscar cerveja na mercearia quando ficávamos no sítio da Vó em Morretes. Era libertador fazer aquele caminho. Por quantas vezes voltávamos à noite, numa escuridão total e aquilo era demais! Ficávamos perto do rio, bebendo, observando aquela linda paisagem. Um lugar que com a passagem do tempo se perdeu, restou apenas em minha memória. Não frequentamos mais o Cascatinha, e aquele doce tempo ficou para trás...

Mas no sonho havia uma trilha, e ela ficava em Bonito. Eu optei por ir por ali e não até o Cascatinha. Era um lugar desconhecido, mas lindo (como o próprio nome). É uma trilha nova (a do futuro) a ser descoberta e que não é mais a de Morretes (a do passado). É melancólico chegar a essa interpretação, mas significa a infância e adolescência que ficou para trás, e que deve ser superada. Há outras trilhas igualmente bonitas e que poderão me trazer diversas outras lembranças no futuro, e eu devo procurá-las e trilhá-las. E quanto àquela trilha, resta-me as doces lembranças e a certeza de que um dia fui muito feliz em caminhar por ali, com pessoas muito especiais que fizeram parte disso tudo. 

Trilha Sonora: Doves - "The Sea Song", "You Break me Gently", Snowden".