domingo, 24 de dezembro de 2006

Falling Angels

poucos anjos já existiram aqui. muita desgraça já aconteceu. talvez eles sejam fantasmas. até acredito que sejam. porque fantasmas só vivem do passado, e sempre voltam para assombrar. não há fantasmas do futuro, ou que apareçam para dizer o que será bom no futuro. eles sempre aparecem para não deixar que algo não se perca no tempo, que não deixe a memória embotar. na real, eles sempre estão vivos, sempre ali, no seu canto, isolados. para saber que não é possível esquecê-los. senão, não seria anjos, não seriam fantasmas. o que não há utilidade não sobrevive, nem volta. anjos caem, aos pedaços. sempre estão por ai, em alguma idéia de esperança, em algum lugar que não podemos alcançar. onde não podemos mais sonhar. onde não mais vivemos. ali onde a fantasia toma conta de nossos seres, onde o eu não existe mais.
queria ser um anjo, para poder voar, para poder ir onde nenhum humano foi. mas só sou um humano, com todas as falhas, com todas as contigências, com a vida. e isso eles não podem ter. a vida. só humanos como eu à tem, e não sabem viver. não sabem o que é sofrer, e isso é viver. anjos existem em nossa imaginação, e graças a Deus eles existem, pois ser Humano, não é para qualquer um. é para aqueles que deixam de ser humanos...

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

A História da minha Vida

06/12/2006


Para Vivi,


Eu quero lhe contar uma história. Uma história de uma pessoa muito especial, que de repente se apresentou à minha vida e não quis sair mais. Eu também não quis que ela saísse. Ela me ganhou no primeiro olhar. Eu juro que tentei escapar. Mas algo me puxou para perto dela e dali não saí mais. Esta pessoa tem uma força incrível, uma energia radiante, uma beleza exuberante. Não á toa, a apelidaram: Vida. Palavra difícil de explicar seus significados, pois são tantos, mas que é facilmente sentida, experimentada, sofrida, alegrada, incansavelmente lutada a cada dia por cada um que habite nesse mundo. A Vida é a própria metáfora de tudo isso. Força. Talvez “força” seja um significante que exprima o que se sente ao conviver com tal pessoa. Intensidade. Viver cada segundo intensamente. Amor. Um coração que cabe a todos, que transborda afetos, que consome você loucamente. Que lhe acolhe naquele dia onde tudo parece dar errado. Olhar. De quem quer proteger-lhe, mesmo quando ela sente-se a pessoa mais desprotegida do mundo. Uma flor sensível e cheia de espinhos, que ocultam uma sensibilidade e ternura imensas. Exige muitos cuidados, mas vale a pena tentar.

Passei momentos inesquecíveis com essa pessoa. Mergulhei em sua alma como nunca antes. Fui a abismos, a fendas, tentando desvendá-la. Abri meu peito, mostrei o que nunca mostrei a ninguém. Fundi minha alma com a sua. Paguei o preço por isso, por desverlar-me. Não me arrependo de nada. Só sei que vivi intensamente cada momento junto de ti nesses 3 anos e pouco. Tornei-me outra pessoa. Fui ao inferno e ao paraíso, às vezes num mesmo dia. Enfim, abri-me à Vida. Obrigado por tudo. Obrigado por ter entrado em minha vida e fazer eu seguir outros caminhos. Os caminhos tortuosos que só a Vida nos faz seguir. E como valem a pena.

Felicidades em seu aniversário. De seu amor, Luiz.

Trilha Sonora: The Verve: "History", "On your own" e "Lucky man".

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Torpor

3 da matina, litro de vodka, carreiras na mesa de canto. nu, deitado na cama, olhar alucinado para a janela totalmente descoberta. o Passeio Público surge como um quadro fixo: transeuntes pela rua, putas encostadas, polícia a cada quarto de hora. o céu cinzento misturava-se as luzes da cidade, ao som dos carros, às sirenes. sente suas veias queimarem com a morfina que percorre cada centimetro de seu corpo dormente. a mente vaga por caminhos obscuros, imagens distorcidas do passado, personagens mortos. gritos de criança, risadas adultas. não há mais dor. não há angústia. só o torpor da droga...

Trilha Sonora: Bark Psychosis "Eyes & Smiles"; My Bloody Valentine "Sometimes".

terça-feira, 19 de setembro de 2006

A Partida

Para Cris,
Com muito amor; saudades...

E ela saiu naquela tarde vazia. Uma mala na mão e a cabeça cheia de sonhos e medos. Saiu dividida, entre o passado e o futuro; entre o conforto e a aventura; entre o amor e a paixão. Não sabia muito bem o que era o certo e nem queria saber, somente queria sair. Aqui por quanto tempo sentiu-se dissituada, perdida, talvez amarrada a algo que não sabia. Era quase uma criança, uma menininha meiga e protegida por todos. Tinha ânsia por crescer, criar asas e voar... Deixou para trás muitas coisas boas, muitas lembranças, muitos amigos, muito. Era hora de partir. O trem apitava na estação. O dia era ensolarado, porém com um ar melancólico. Um ar de que o passado havia ficado para trás, mas que estava marcado em seu corpo e cada vez que olhasse o veria, ali, sorrindo, como que dizendo: pode voltar, continuo aqui. O trem saiu, a estação chorou. Os trilhos sentiram o peso da viagem. E ela confortavelmente enconstou-se na janela, viu a paisagem mudar aos poucos, até adormecer. Abriu os olhos e tudo havia mudado. A estação era outra, as pessoas eram estranhas, o sol havia se escondido. Com o coração partido, com a mente confusa, com lágrimas encharcando sua blusa, estava feliz. Tinha muitos planos e isso a fazia continuar. Olhava para frente, mesmo sentindo as marcas do passado, que sempre insistiam em aparecer. Pela primeira vez sentiu o gosto amargo das escolhas e a brisa gelada da liberdade. Estava arrepiada, estava cansada, estava satisfeita. Sonhou várias noites com o trem. Lembrou de cada metro dos trilhos. Dona de si, cresceu muito. Encarou os medos, lutou contra a confusão. Caminhou no fogo e chegou ao outro lado. Com muita dor e esforço, está lá. E ninguém poderá dizer que errou. Foi apenas o que queria, o sonho que sonhou; a vida que buscou e a Vida que a levou.

Fuga Nº 11
(Mutantes)

Hoje eu vou fugir de casa
Vou levar a mala cheia de ilusão
Vou deixar alguma coisa velha
Esparramada toda pelo chão
Vou correr num automóvel enorme e forte
A sorte e a morte a esperar
Vultos altos e baixos
Que me assustavam só em olhar

Pra onde eu vou, ah
Pra onde eu vou, venha também
Pra onde eu vou, venha também
Pra onde eu vou

Almost Forget Myself [Quase me Esqueci]
(Doves)

So close
Yet you're wasted again
I know, somehow...
We'll find ourselves...
I don't know, I don't know

Tão perto
Você ainda está perdida novamente
Eu sei, de algum jeito...
Nós mesmos iremos nos achar novamente
Eu não sei, eu não sei

(…)I almost forgot myself again
I almost forgot myself there
It's hitting me hard
It moves me again
Again...

(...) Eu quase me esqueci novamente
Eu quase me esqueci lá
Isso está me atingindo tanto, isso me move novamente
Novamente... novamente...

Walk in Fire [Caminhar no Fogo]
(Doves)

I've always known
That you felt the pain
And it had to start to show
It'd driven you insane
I could lie, but I can't
'Cause you know it's so

Eu sempre soube
Que você sentia a dor
E tiveram que começar a mostrar
Que isto a levaria a loucura
Eu poderia mentir, mas eu não consigo
Porque você sabe
como é

You tell me, you say
"I walk in fire, you walk in fire"
You're not free till you
Walk in fire, I walk with fire, I walk in fire

Você me conta, você diz
“Eu caminho no fogo, você caminha no fogo”
Você não é livre até você
Caminhar no fogo, eu caminho com fogo, eu caminho no fogo

In my Place [No meu Lugar]
(Coldplay)

In my place, in my place
Were lines that I couldn't change
I was lost, yeah
I was lost, I was lost
Crossed lines I shouldn't have crossed
I was lost, oh yeah

Em meu lugar, em meu lugar
Eram linhas que eu não poderia escolher
Eu estava perdido, sim
Eu estava perdido, eu estava perdido
Linhas cruzadas que eu não poderia ter cruzado
Eu estava perdido, sim

Yeah, how long must you wait for it?
Yeah, how long must you pay for it?
Yeah, how long must you wait for it?
For it

Sim, quanto tempo você deverá esperar por ele?
Sim, quanto tempo você deverá pagar por ele?
Sim, quanto tempo você deverá esperar por ele?
Por ele

I was scared, I was scared
Tired and underprepared
But I waited for you
If you go, if you go
Then Leave me down here on my own
Then I'll wait for you, yeah

Eu estava assustado, eu estava assustado
Cansado e despreparado
Mas eu espero por você
Se você for, se você for
Deixe-me aqui sozinho
Então eu espero por você, sim

Trilha Sonora: "Fuga Nº 11", Mutantes; "Almost Forget Myself", Doves; "Walk in Fire", Doves; "In My Place", Coldplay.

Download para as músicas: http://rapidshare.de/files/33692242/musicas.zip.html



quarta-feira, 31 de maio de 2006

leãozinho

depois de mais um porre, litros de pinga de plástico, saiu cambaleando pela rua imunda. xingou todos, cuspiu em uma velha. detestava o mundo, se detestava. uma semana sem tomar banho. três dias sem dormir. infância pobre, adolescência em reformatórios, vida adulta entre hospícios e a rua. a rua. sempre seu lar, sempre sua desgraça e sua redenção. aprisionado dentro de si, por que ter algo que o prenda? cair no trecho, violão nas costas, cantar para as estrelas. vomitar palavras soltas e desconexas para o desconhecido, ou para algum mendigo que tente lhe ouvir. dormia onde podia cair. um dia, dois litros de pinga. BR-116 sentido São Paulo. dormiu. caiu, braços abertos como se pedisse perdão. um carro em alta velocidade e um braço esmagado. dor. lágrimas. sentimento de punição. deus quis e assim será. conseguiu sobreviver com uma carona de um camioneiro evangélico que, presenciando a cena, achou ser uma dádiva do poderoso poder salvar aquela pobre alma. anos depois, maneta, se ressente unicamente por não poder mais tocar seu violão. se culpa até o ultimo por aquele episódio em que perdeu o braço que lhe oferecia a única contentação à sua alma: os acordes de seu violão. um dia, outro porre, esmaga o fundo de uma garrafa de leãozinho com uma pisada, sua companheira daquela noite. e ao ver aquela garrafa, resolve cortar o fundo e amarrá-la em seu cotoco. uma prótese. pega seu violão e totalmente embriagado, tira um dó maior após anos de silêncio. o que quase lhe acabou com sua vida o trouxe de volta. o leão escreve certo em linhas totalmente tortas.

Trilha Sonora: The Stooges "We Will Fall".

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Crônica da Vida-Pôquer

A vida é um jogo de pôquer - pensou Jonas enquanto voltava para casa. Ele sempre teve idéias curiosas dentro de um ônibus. Chegou a essa conclusão ao constatar que havia jogado muito pouco em sua vida. E quando jogou, suas apostas foram mesquinhas. Quantas fichas poderia ter ganho se ao menos tentasse? E quantas perdeu, se no pôquer, independente das apostas, o blind sempre é posto na mesa. Se chamar, pode-se ganhar ou perder, mas se fugir, mesmo assim perde-se o blind. Na vida jogando ou não sempre se perde algo. Não da para ganhar sempre. Fugir do desafio, se por um lado evita-se de perder a quantidade da aposta, por outro não surge a oportunidade de ganhar. Perde-se também a chance de fazer jogadas interessantes. Se o jogador (a) sai com um par de dois e acha pouco, desistindo em seguida, acaba se arrependendo, ao ver que na mesa, saiu outro par de dois. Enquanto isso o outro jogador saiu com um par de ás e se empolgou em apostar ao ver que tinha duas duplas. A aposta estava baixa até aparecer a dupla de dois na mesa. O jogador (a) poderia ter aumentado a aposta e com certeza o (b) pagaria para ver. Essa teoria fazia sentido para Jonas. Ele sempre fugia ao pensar que suas cartas eram baixas, sem valor. Em quantas situações havia fugido sem ao menos esperar as cartas virarem na mesa? Inúmeras vezes perdeu por não se arriscar e, ao somar o saldo de sua vida, havia perdido mais por correr do que em apostas, que talvez poderiam ter dado certo. Apostar na hora certa. Aumentar quando se pode. Correr quando não há possibilidade alguma de se vencer. É isso que Jonas quer agora e que demorou tanto a compreender, após entender que as regras do jogo da vida são como as regras do pôquer.
Trilha Sonora: Drugstore "Sober", "Never Come Down" and "I Know I Could", from White Magic for Lovers' Album.

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Outono


E o outono chegou. Céu cinzento, preguiça. Tudo parece ter voltado. A ânsia pelo novo, a estagnação do passado. Paralizado, imóvel, sem conseguir ver um passo a frente. Parece que a vida anda e desanda de uma forma incontrolável. Os velhos medos, a fobia. Sozinho em seu mundo imaginário, perdido em pensamentos. Insegurança. Não há motivos aparentes para isso, mas há uma porra de uma tendência a levá-lo para baixo, para onde não quer ir, para onde já esteve várias vezes e tanto sofreu... O outro parece apenas esmagá-lo. E ele sabe que não é assim. Ele só queria sumir, desaparecer completamente. Esse contato consigo mesmo é tão árduo. Por si só não consegue ver adiante, não pode. Há algo dentro de si que impede, que trava-o. Não consegue pedir ajuda, não sabe como. Acha que ninguém poderá ajudá-lo além de si mesmo. Paradoxo. Procura respirar, deixar o ar vir, sentir... Por que tentar escapar do inevitável caos que é a incerteza da vida? Por que tornar os caminhos tão tortuosos se há apenas a certeza de deixar vir?
Trilha Sonora: Radiohead "How to Disappear Completely", "Sail to the Moon", "No Surprises".

sábado, 11 de março de 2006

Fim de Tarde

E a vida continuava, com exceção de alguns percalços até que ia bem. Estava só, porém havia escolhido assim. E por isso achava que não podia reclamar. Chegou do trampo, tirou a camisa e acendeu um cigarro. Sentou-se em frente a janela e ficou ali á observar o movimento tímido dos trausentes na rua. Um velho passeava com seu cachorro com uma expressão amigável em seu rosto. Lembrava muito seu avô. Este tinha um ar sério de um homem em que se confia somente de olhar. Se tinha marcas de ter vivido uma vida dura, estas eram disfarçadas pela imagem de um homem doce e muito amigo. Bons tempos em que colhiam verduras para o almoço na chácara e conversavam sobre política, sobre o futuro, sobre coisas sérias da vida. Pensou rapidamente que não existirão homens como seu avô num futuro próximo. Pessoas cada vez mais atormentadas pelo ritmo louco das cidades. A dor não pode ser mais sentida e elaborada. Saídas suícidas. Sentimento de perdição. Praticamente esparramou-se sobre a cadeira. Deixou sua mente o levar. Isso ás vezes era perigoso. Perdia-se em resquícios de imagens do passado. Gostava de viver o presente mas era tão difícil somente vivê-lo! 15 minutos se passaram e em sua mente nada passou. Acendeu outro cigarro, desceu as escadas e foi na mercearia comprar um tubo. Era o que precisava naquele fim de tarde. Entregar-se à escuridão do álcool e viver uma bebedeira. Por sorte encontrou Marcos na esquina e ambos subiram ao seu apê. Cd do Radiohead no som, tubo, carteiras de malrboro e mais um dia que se vai.
Trilha Sonora: Chet Baker "My Funny Valentine", Radiohead "Lucky".

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

A Place in My Life

Saudades da Barra...


"There are places I remember
All my life though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain
All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I've loved them all"

( In My Life, The Beatles)

"Há lugares dos quais vou me lembrar
por toda a minha vida, embora alguns tenham mudado
Alguns para sempre, e não para melhor
Alguns se foram e outros permanecem
Todos esses lugares tiveram seus momentos
Com amores e amigos, dos quais ainda posso me lembrar
Alguns estão mortos e outros estão vivendo
Em minha vida, já amei todos eles"


quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Afterglow

"Eu só quero dormir", falou para si Jonas ao saber que o amor não existia mais. Vagueou a noite toda por todos os puteiros mais sujos da cidade. Foi o único lugar que encontrou onde as mulheres ouvem o que um homem diz. Desabafou. Estava totalmente perdido. Suas idéias o perdiam. Passou a noite em claro e de manhã se deu conta que só queria dormir. Para sempre, de preferência. Não que sua vida fosse ruim, ganhava bem até. Tinha alguns amigos, teve algumas mulheres. Mas nada fez muito sentido até hoje. Sempre procurou algum. Não queria se matar, só não queria viver mais. O suicidio é uma responsabilidade e isso era o que menos queria. Talvez quisesse voar ou flutuar no oceano. Talvez só quisesse viver... sem culpa. Sem laços, sem desejos. Mas sabia que isso não era viver. E quem disse que queria viver? Alguém deu essa opção? Ninguém escolhe viver. Só se pode escolher morrer. E Jonas descobriu nessa mesma manhã que já havia morrido. Quando o amor deixou de existir foi-se juntamente o que era viver: a busca. A eterna busca que é a vida. Busca e espera. Ambos haviam acabado e com isso Jonas também.
Trilha Sonora: Travis "Afterglow" (From The Invisible Band Album)