quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A Long Time Ago...

lembro me agora de minha adolescência perdida. de todas as vezes que vaguei por ai. da minha alma clamando por liberdade. e todas as bebedeiras sem propósito. nunca entendi o que realmente eu queria com a liberdade. sempre utópica, hoje permanece assim, distante. libertar-se de si, que porra é essa quando se tem 13 ANOS? toda essa merda que circula hoje entre o "ser jovem" já existia. na minha pobre incopreensão aquilo não era vida. hoje a glorificação do eterno ser jovem.
que porra era aquela? a vida passava como um filme p/b, algo que hoje não se sabe o que significa. tudo se foi e esvanesceu como um simples bater de asas de uma borboleta... metáfora recente de uma teoria do caos. a vida adulta não se concretizou. os velhos anseios permanecem. aquele momento que se espera que um dia aconteça e que tudo irá se concretizar, continua. o velho cigarrinho. a bera entorpecendo os sentidos, tudo isso permanece. os velhos amigos que se foram. uns encontraram seu rumo, outros estão na procura ainda. mas todos embarcaram nesse rumo sem fim, nessa estrada nebulosa que separa o passado do agora.
aquele velho sonho do prazer a qualquer custo torna-se obscuro. tudo é tão regrado agora. tudo é tão disperso e confuso.
saudades dos tempos de algazarra e loucuras sem preocupação. isso não existe mais, e nem deve-se cogitar sua volta. só eu estou nessa, e nem procuro a nostalgia. somente fico aqui a relembrá-la. bons tempos de doideira. tudo é tão careta nesses tempos neo-globais. fantasmas ressurgem em busca de uma brecha que ficou perdida em tempos remotos e antes inimagináveis. o mundo rodou, os personagens assumiram outros papéis que parecem agora falsos. busca por aquilo que se perdeu numa época em que não se buscava nada, e agora tenta-se recuperar. pobre ilusão. pobre rapaz querendo viver em outros tempos com referenciais antigos.
mas tudo era tão bom. e agora por que não? tirando a minha solidão, por que não?

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Marasmo

marasmo. dias e dias passados em vão. espiríto embotado. dias cinzentos desperdiçados. há muito não se produz nada. não há contemplação alguma neste ócio maldito. a alma vagueia em um estado que lembra o purgatório: não caí-se, não levanta-se, não ruma a outro ponto qualquer. permanece-se imutável.
"now the drugs don't work, they just make you worse, but I know I'll see your face again"
preâmbulo de uma nova passagem? estado submerso antes da emersão total? não. tudo parece simplesmente permanecer parado. não há vontade de mudar isso. não há um incomodo que ultrapasse o limiar de "mudanças necessárias urgentes". contente com o prazer barato rapidamente conseguido, tudo tende a cada vez mais ser banal. o fundo do poço está distante, e não há motivos aparentes para procurar tal saída.
a mente está estagnada. nada de vivo ou de novo surge. o horizonte tem a mesma cor todos os dias. o ambiente não mais exerce alguma influência. apela-se ao Radiohead, só assim atinge-se o ponto que o arranca do limiar: a dor que nunca se pode sentir. sem dor não há movimento. sem a angústia, motor nervoso da ação, não há nada. este combustível tão essencial está cada vez mais escasso. a porca mal-dita pós-modernidade tem vencido.
"tudo que é longo e profundo se desmancha no ar"
não há mais o sufoco, a falta de ar. há uma falsa liberdade, uma sensação de extrema neutralidade. vive-se por viver, o sentido cada vez mais distante. significantes e mais significantes. a busca pela vida está cada vez mais longe. a entrega à fantasia é constante. mundo virtual, vida sensorial. subjetividades suprimidas. está cada vez mais difícil ser neurótico em paz.
"let down and hang around. crushed like a bug on ground"
a saída agora? tentativas de se recompor, de buscar a si mesmo em um universo homogêneo e líquido, onde tudo tende a se misturar e a diluir todo e qualquer novo elemento. remontar a imagem do espelho está quase impossível.
"Essa máquina não comunicará.
Aqueles pensamentos e a pressão a que estou submetido.
Será um mundo infantil, formará um círculo.
Antes que todos sucumbamos
E se desvanece de novo. E se desvanece de novo"
Trilha Sonora: Radiohead "Street Spirit (Fade Out)", "Let Down", "Exit Music (for a film)", "Piramid Song"; The Verve "The Drugs Don't Work".

sábado, 17 de maio de 2008

Onde?

Por que nossos caminhos não se encontram mais? Por que de repente, minha vida que era tão próxima de ti, se separou? Saio por ai querendo encontrar uma resposta, para uma questão que não consigo nominar. Será o mundo que mudou? Depois de tanto tempo, será ele mesmo que modificou tudo? Tantas questões, no lugar de onde só havia afirmações. Não havia certezas, disso todos sabem. Mas por quê de tantas dúvidas? Agora vago por ai, sem saber para onde andar. Já trilhei os caminhos mais estranhos, já tropecei em muitos buracos. E agora caio aqui? Aqui onde eu nunca imaginei cair, onde sempre me pareceu o porto seguro?
Onde tudo estava a ser construção, agora caminha a uma descontrução contínua. Eu não sou mais Eu, pois eramos metade. Reconhecemos que não passavamos disso distantes. E agora somos pedaços soltos por ai. Não sei mais onde catar o que restou, nem tentar montar outra imagem. Sou só a dor, em pedaços. A dor contigo era mais singela. Ela vinha em movimentos soltos e leves e quando eu tentava se erguer, você estava lá. Não era forte, nem capaz de tudo. Mas estava ali, onde nada havia. Onde tudo parecia ter desaparecido e a angústia iniciava a sofrer. Estava ali. E isso bastava. Bastava a tua presença. Como uma brisa que teme em surgir quando o calor sufoca. No aperto do meu peito, agora resta um pouco de ar, que se faz suficiente frente ao que não há.
Enquanto vago por ai, penso em ti, em tudo o que se passou. Onde errei, onde acertei ao errar. Onde minha pobre imaginação tenta recompor o que não pode ser reconstruído.
Naquele espaço que deixei aberto, e dali me perdi, tento buscar a solução, tendo em mente que ela não virá tão fácil. E prossigo, porque acredito. Acredito que não nos perdemos tanto, que estamos nadando muito próximos, porém, perdidos.
O silêncio que agora se faz aqui em tristeza, se tornará o recomeço de onde paramos. E de onde iremos retornar. Não será mais a mesma coisa, pois foi esta que nos matou. Será algo diferente, que espero retomar ao início, onde simplesmente duas almas se encontraram e disso fizeram uma só. Voltar a um tempo em que não pensavamos e que simplesmente contemplavamos um ao outro. Quando não nos davamos conta que a vida é simples, desde que permitessemos que ela seguisse o seu curso.
Em você pude ver minha alma. Agora nada.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Carta à Sonia nº 1

Curitiba, 20 de Setembro de 2001.

Há algum tempo eu não faço nada. Não produzo nada. Minha grana está acabando, e sinto que minha criação vai se esvaecendo. As palavras estão fugindo, as letras fragmentam-se. E minha alma segue o mesmo caminho: em pedaços, não sinto vontade de juntá-la.
Apesar de tudo meus dias passam rápidos. Acordo tarde, ligo a TV, fico fumando até a hora do almoço assistindo as piores merdas. Às vezes almoço, às vezes não. Saio caminhar à tarde e tudo me incomoda: o barulho dos carros; as pessoas neuróticas em suas vidinhas automáticas; a felicidade de uns, o rancor de outros; tudo me parece um tédio.
O pior é não conseguir escrever. Estagnação. Sinto-me amarrado, pesado, arrastando meu corpo pelas ruelas do Centro. Nem as putas me distraem mais. E não trata-se de simplesmente ficar paralisado. Faço um esforço tremendo, acordando cedo, começando a ler algo para inspirar-me , assistindo filmes, caminhando pelas ruas; tudo como sempre fiz, buscando forças no velho cotidiano, em tudo o que me cerca, o que me incomoda, o que me toca. Mas nada.
Eu sei que subestimei sua presença Sonia. Que as vezes tratei você como não merecia.
Longe de ti, me perdi. Afastei-me das pessoas, das coisas, do mundo. Perdi contacto com a realidade. Agora tudo é diferente. Lembra como eu ficava quando estava produzindo bem? Absorto, perdido dentro de mim, mas louco com aquilo, vibrando e sofrendo, gritando por dentro e me acabando. Mas vivendo, explodindo, deprimindo, dormindo. Gozando. Agora tudo parece estar perdido, insosso, sem graça. Perdi o tesão.
Não quero dizer com isso que foi sua saída que provocou tudo. Longe disso. Só queria contar-lhe como estou, como foi minha semana, assim como quando você aparecia por aqui conversar. E o pior é pensar que você deve estar se divertindo a beça onde quer que esteja. Te admiro muito por esta sua capacidade de curtir a vida, algo que nunca pude desenvolver. Sempre criei meus subterfúgios, minhas amarras, sempre restringi minha liberdade. Aprendi a viver em um túnel infinito, aberto somente acima, que me leva sempre adiante, mas que não permite ultrapassar suas paredes. Como um trilho que segue constantemente, sem chances de poder quebrar na primeira esquina. Já você escolheu o oposto: a liberdade desmedida, inconsequente e louca. Cruel quase sempre, feliz às vezes, mas sempre pronta a se renovar, a te jogar para lugares inimagináveis.
É minha amiga, somos muito diferentes e mesmo assim acabamos por juntar-nos em alguma centelha da vida onde somos iguais: seres perdidos, dentro de si, presos ou não, condenados ao um destino que escolhemos e sabemos dele muito bem. Talvez isso nos aproxime, talvez o nosso senso de não pertencimento a este mundo comum onde tudo funciona, onde todos supostamente se entendem e vivem suas vidas normais, virando às costas para toda a merda que nos cerca. Só sei que já sinto falta de sua acidez, de sua arrogância até - maravilhosamente dosada e ousada. E mais que tudo, sinto falta do único ser humano em que eu podia me encontrar, me ver e não me sentir "o estrangeiro".
Te cuida Sonia.
Beijos, Jonas
Trilha Sonora: Radiohead, "In Rainbows II" (2007); Mogwai, "Happy Songs for Happy People" (2003); Explosions in the Sky, "The Earth is not a Cold Dead Place" (2003); Interpol, "Turn the Lights Bright" (2002); Wilco, "Sky Blue Sky" (2007); Portishead, "Live in Roseland, NYC" (1998).

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Eternal Sunshine of the Spotless Mind

"Eu quero que você desapareça de minha memória. Quero apagar todas as marcas que tua alma deixou em mim. Cada toque, cada voz e suspiro, cada sorriso, todas as lágrimas que senti escorrerem. De tudo, de todas as coisas que vivemos, agora só resta a dor. E esta é muito maior do que tudo que já vivemos. Maior que a melhor parte de minha vida. Só peço isso. Esqueça-me. Por favor. Não suporto mais a sua felicidade. Adeus, Jonas".
Sonia achou este bilhete na carteira de Jonas. Era datado de 13-07-97. Ele nunca conseguiu entregar à Ana. Resumia o que ele mais queria, e que nunca teve coragem. Simplesmente não conseguiria apagar Ana de sua vida. Fora a época mais feliz. E para ele nunca mais voltaria. A dor de acordar todos os dias e lembrar disso o atordoava. Eram dias que não deveriam começar - pensava ele.
Era uma segunda-feira cinzenta e chuvosa na "Cidade Sorriso". Uma leve ressaca e uma pontada no fígado. Não quis sair da cama. Foi acordado por Sonia, que ao notar o estado deplorável do ambiente, resolvera fazer uma rápida faxina. Trouxe uma xícara de café e jogou o bilhete que havia achado:
- até quando você vai viver assim. Toda vez que você deseja esquecê-la, você reforça a falta que sente dela.
- o que você tem a ver com isso? o que você sabe sobre relacionamentos? viver com uma pica enfiada no rabo não te qualifica para dar conselhos amorosos!
- você é um filho da puta! pelo menos eu assumo minhas perdas e vivo com isso. Você não, é um babaca escroto que vive se arrastando. - Sonia sai do quarto em lágrimas. Jonas, ainda atônito, vira-se para a janela e observa a fina garoa que caí. - Por que afasto as pessoas de quem gosto? Que merda de vida é essa? Viver de sombras. De restos de passado. Que porra é essa? - escreveu na continuação do bilhete que Sonia havia jogado.
Sonia, ao sair, sabia que parte de sua injúria era porque havia se identificado com o bilhete. Quantas vezes não quis também apagar seu ex-marido de sua memória. Mesmo tendo sido abandonada por ele, ela sentia sua parcela de culpa. Até hoje ela não sabe direito se seu marido soube de suas escapadas. Sonia amava muito seu marido, e fora fiel a ele nos primeiros anos. Ela sempre se considerou uma mulher "sexual", sedutora e insaciável. Seu marido adorava a atmosfera libidinal que a envolvia, e no início do relacionamento os dois se acabavam na cama. Porém com o decorrer do tempo, a relação começou a esfriar, e Sonia passou a deixar que suas fantasias deixassem de ser somente fantasias, e com o tempo a tendência foi de ela exagerar cada vez mais. Começou com umas transas com desconhecidos na balada, homens que conhecia quando saia com as amigas e que acabava no motel. Porém com o tempo suas ações foram se estendendo. Não podia conhecer algum amigo ou cliente do marido que logo desejava transar. Ela não conseguia entender o porquê de se excitar tanto com a idéia de trair o marido com algum conhecido. Ela sentia algo como uma vingança, por ele não a tratar mais como antes. Até hoje ela não sabe se ele acabou por descobrir essas traições, pois ele era empresário e nesse meio tudo é meio obscuro. O fato é que a relação foi se esgotando e um dia Marcos chegou e contou que havia a traído com uma jovem que conhecera no trabalho e que não dava para continuar pois isso era sinal de que o relacionamento havia acabado há algum tempo. Sonia não queria terminar. Argumentou que poderia perdoá-lo, e propôs que tentassem resolver a situação, até mesmo pela Bia. Marcos não quis, disse que não dava mais, que estava apaixonado, e que mesmo que estivesse enganado quanto a esse novo relacionamento, com relação à ela estava decidido. Sonia ficou profundamente abalada, e aquele dia sua alma se perdeu na solidão. Descobriu tempos depois que realmente o amava, e se arrependeu de tudo que havia feito para ele. Mas foi tarde, pois de alguma forma Marcos sabia que a esposa havia o deixado de lado, e que emocionalmente estava afastada. Sonia considerava suas aventuras como simplesmente carnais, pura libido que precisava ser satisfeita. A grande questão era que realmente ao se entregar aos seus mais obscuros desejos, ela havia o afastado de si, de sua mente, de seu corpo. Entregue aos corpos de tantos outros, ela havia o perdido. E essa perda ficou marcada para sempre, pois toda vez que Bia voltava da casa do pai e contava as histórias do pai com a nova esposa, Sonia imaginava-se no lugar do qual um dia já ocupou. E pior, no lugar que ela deveria ter ocupado, pois nos últimos anos deixou de ser a esposa, a mãe, para ser a amante.
Aquele bilhete trouxe a tona toda essa história, que não deixava de pulsar cada vez que Sonia lembrava que um dia fora feliz também. Que teve tudo, e aquele homem lhe deu também tudo o que a mantêm viva hoje: Beatriz. Muito mais do que as palavras de Jonas, fora sua vida revisitada em cinco minutos o que a abalou naquela manhã.
Trilha Sonora: Remy Zero - "Fair"; Sigur Ròs - Várias; Explosions in the Sky - "The Only Moment We Were Alone".

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Carta a um amigo triste

Para um amigo especial,

Hey, ela te deixou com o coração em pedaços novamente?
Destruiu aquilo de mais belo que você tinha?
Seus sonhos e aspirações,
Seu amor, sua confiança.

Eu falei, tu és um ingênuo
Que a alma humana padece.
Que os sonhos acabam.
A realidade transcende o poema.

Por que ela fez você acreditar neste sonho?
Fazer você viver uma mentira.
Jogar o seu jogo sujo.
Brincar com a sua vida.

Ela te trocou por si mesma?
Humanos são assim. Quando tudo se oferece, eles nada querem.
Quando você se abre totalmente, eles fogem.
Quando demonstra o que de mais puro você tem, recebe o nada como troca.

Você é virtuoso demais para estar assim.
Por muito tempo foi subjugado.
Aos poucos foi sendo destruído.
Covardes não dão o golpe final.

Você caiu, está mal.
Seu horizonte sumiu.
O dia de repente escureceu.
Deixa a noite passar, tudo ficará bem.

Eu sei que agora só há a dor.
Ressentimento, mágoas e o rancor.
E que o ódio te conforta,
o que era para ser o amor.

Você é forte, superará.
Você merece somente o melhor.
Não deixe-se abater. Ela não merece seu sofrer.
Você conseguirá. Todos acreditamos em ti.

Fica bem meu amigo.
Deixa as lágrimas surgirem. Deixa teu peito doer.
Agora só o tempo irá lhe curar.
E fazer com que você volte a ser a alma bela que era.

Trilha Sonora: Remy Zero, "Fair"; Modest Mouse, "Trailer Trash"; Nada Surf, "Inside of Love".

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Across the Universe

Questionado uma vez por que era tão só, Jonas respondeu: “somente dentro de mim encontro alguma compreensão. O mundo se apresenta complexo demais para mim”.
Em seu apartamento, discos de Jazz, livros de filosofia, litros de vodka. Um quadro de John Malkovich. Jonas era escritor, escrevia textos que só ele compreendia e que os críticos interpretavam como “metáforas da vida cotidiana pós-moderna”.
Circulava pelos meios artísticos em busca de bebidas e, se possível, uma transa com alguma tiete acadêmica de Letras da UFPR. Não era bonito, se vestia mal, mas tinha algum estilo e um ar de quem não quer nada da vida. Isso atraía certas mulheres que buscavam preencher o vazio existencial de suas vidas mesquinhas.
Em uma festa de lançamento de um livro de poesia concreta, uma garota se aproximou enquanto ele sorvia a sétima dose de martini. - Que bosta esses drinks, não há vodka por aqui? – pensou.
- Li o seu último livro. Você tem uma compreensão absoluta da alma feminina...
- É? Não sabia disto.
- Além de lindo é modesto? Que graça...
- Você está com alguém? Quer dar uma volta?
Jonas acordou com uma puta ressaca. Sua última lembrança era comprando uma garrafa de vodka no Mercadorama com uma garota. Acordou só. A moça deve ter vazado. Encontrou um cigarro pela metade no cinzeiro, acendeu e foi até a janela. Os dias começam estranhos quando se acorda sem saber como foi dormir.
Uma batida na porta. Era Sonia, uma amiga prostituta que morava no andar de baixo e que às vezes aparecia para fumar um. Jonas não curtia maconha. Mas sempre comprava. Gostava que Sonia aparecesse para trocar algumas palavras.
Ele a considerava brilhante. Era bonita, desenvolta, tinha uma visão obscura da vida, era totalmente irônica com tudo. Caiu na vida quando seu marido, um rico empresário paulista, a abandonou com sua filha e foi morar com uma linda garota que chegara do interior.
- E ai, como foi sua noite? – perguntou Sonia.
- Não lembro. Pelos rastros, uma garrafa de vodka e alguma companhia feminina que deve ter fugido em alguma hora da madrugada. E você?
- Fiz 500 ontem. Acordei em um apê no Mercês com mais uma garota e um velho pançudo.
- Já paga o alguel.
- É.
Jonas já fora casado. Viveu quatro anos com Ana. Foram os melhores anos de sua vida, pelo menos para ele. Ana nunca se sentira satisfeita ao seu lado. O considerava muito jovem, um imaturo. Frente ao impasse de Jonas em ter um filho, o abandonou e foi curtir a vida. Casou com um engenheiro quarentão e hoje vive bem no Rio. Nunca mais se falaram e após o ocorrido Jonas se fechou e caiu no mundo.
Sonia só confiava em Jonas para cuidar de sua filha, a doce Beatriz. Muitas vezes a deixava com Jonas quando saía batalhar. Quando ele cuidava de Beatriz não bebia. Nem fumava para não prejudicá-la. Mesmo quando esteve afundado no pó Sonia confiava nele, pois ele não usava nada quando estava com a menina. Jonas tinha um amor quase paternal por ela. Porém a cuidava com uma atenção metódica, evitando toda e qualquer forma de envolver-se. Sonia o compreendia. Aliás, a única.
- Eu quero dormir abraçada com você.
- Por que Sonia?
- Porque me sinto só, me abraça?
Dormiram abraçados. Jonas ficou por horas acordado sentindo o calor do corpo de Sonia. Lembrou de Ana. Da forma como o abraçava, da segurança que ele sentia passar. Sonia dormia leve, alguns suspiros e a sensação de que naquele momento ela respirava livre. Sentiu lágrimas escorrem em seu peito. Ela só queria aquele momento de conforto. Jonas só queria suas lembranças novamente. Era só o que ele tinha.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

In Rainbow

Para um anjo...


Você viveu em nossos corações e mentes por muito pouco tempo.
Tempo suficiente para encher a todos de alegria e esperança.
Num mundo cada vez mais cinzento e obscuro, uma porta parecia abrir-se e iluminar o caminho de todos.
Vivemos em tão pouco tempo um sonho cheio de cores e matizes.
Você nem existia e mesmo assim tua presença era tão forte.
As cores do arco-íris indicavam um pote de ouro.
Esse lindo presságio onírico de repente se acabou.
Tão breve quanto surgiu.
Dias cinzentos em pleno verão colorido o antecederam e pareciam anunciar: o sonho acabou.
Doce sonho vivido tão intensamente em nossos corações e mentes.
A esperança de dias melhores foi frustrada com um golpe cruel do Real.
As nossas fantasias permanecem lutando contra a realidade dura e seca.
Nossos sonhos ainda sobrevivem para amenizar a dor que estoura o peito e teima em surgir.
Nossas esperanças recuaram, mas ainda vivem e nos mantêm vivos.
Em nossos corações e mentes você continua a existir.
A semente que tu plantastes ainda vai brotar e florir, nos enchendo com toda a beleza e alegria.
Dias melhores irão de surgir.
E tua lembrança surgirá para provar que a vida persiste.
Como no lindo sonho colorido que um dia vivemos.
Agora, só dor, melancolia, e a doce esperança que nos acalma,
e nos faz sonhar contigo novamente.
Da chuva que cairá como brisa, e do sol renascendo atrás das nuvens
surgirá o arco-íris.
Vidrar Vel Til Loftarasa
Sigur Ros
Deslizo para a frente através da minha mente, penso metade do tempoao contrário.
Vejo-me a cantar. A canção que escrevemos juntos. Tivemos um sonho, tivemos tudo.
Fomos até ao fim do mundo, fomos à procura.
Subimos arranha-céus que depois explodiram, já não havia paz.
Perdi o balanço e caí para trás.
Deslizo para a frente através da minha mente, volto sempre ao mesmo lugar.
Silêncio sem resposta.
A melhor coisa que Deus criou é haver todos os dias um novo dia
Trilha Sonora: "Videotape", "Go Slowly", "Last Flowers", "Nude", do álbum In Rainbows, Radiohead. "Vidrar Vel Til Loftarasa", Sigur Rós.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Insônia

sem ter o que escrever. sem ter o que pensar numa hora dessas. imaginar coisas que eu poderia estar fazendo é demente. ou planos que simplesmente surgem sem o mínimo de convicção de que serão realmente planos. pensar sobre o imaginável torna-se agora ridículo. a realidade é que muito pouco torna-se algo concreto. e isso é um fato. não que não se possa sonhar. sonhos são ótimos quando se tem alguma idéia de que se possam concretizar. já sonhei apenas, por sonhar. mas ultimamente os sonhos têm sido simples escapes, fugas para aquilo que não se quer que se concretize. então é melhor escrever sobre o que se está vivendo, mesmo não sendo nada de interessante.
férias. tempo remoto e livre. tempo de se sentir inútil. sentimentos obessssivos. eu sei que posso ficar por muito tempo sem fazer nada, ou prolongar o tempo que eu quiser para simplesmente não fazer nada. mas isso é banal. eu tendo a pensar que não, mas é. para quem tem na maior parte do tempo um pensamento utilitário, mesmo achando que não. que se foda. nessa hora não quero pensar em mais nada. o álcool percorre minhas veias e pede para deixar de pensar em qualquer coisa.
deixe-se levar. quanto é duro seguir uma lei tão natural. o corpo pede, as vezes implora. mas a mente insistentemente nega. renega. oprime. por que deixar-se levar? burro! se tu podes simplesmente imaginar? mente burra. corpo frágil. de tudo o que se pensa somente 15% se concretiza. mas para a razão é o que basta para tornar-se verdade. para a estatística, arma da razão, não se faz necessário que se aplique ao todo, somente uma projeção basta. simples projeção daquilo que se imagina ser o todo. ou que seja possível provar estatísticamente.
deixar o corpo ir, a mente fluir, em espaços nunca antes imagináveis. deixar ser. como ser. simplesmente ser. função inimaginável da pobre mente, que pode tudo, e realiza pouco.
sonhos loucos, mente insana, vinho correndo pelas veias. tudo se passa rapidamente, antes de sumir num vazio. o vazio de que não se pode controlar, o da mente que teme simplesmente enlouquecer. que ao invés de criar, se apaga, e deixa este velho vazio a percorrer. sem tentar ao menos, reproduzir-se. tão mais fácil deixar-se entregar ao vazio, velho embolorado que teme em criar-se.
entregue-se a suas mais loucas idéias e tente fugir do mesmo, daquilo que o tempo tende a criar, sem querer, e que é o seu rastro, sua impregnação, a sua própria marca que lhe faz sobreviver: o registro. o tempo que se estagna sem ao menos se dar conta de sua existência, e que se faz, memória daquilo que já passou.
Trilha Sonora: Silversun Pickups "Melatonin"; O Grande Encontro "Eternas Ondas"; Sigur Ròs "Viõrar Vel Til Loftárasa"; "Untitled 5".