domingo, 21 de junho de 2009

Perdas

Talvez eu esteja a semana toda tentando me preservar. Ou esteja a semana toda tentando chorar. E eis que estou aqui me achando rídiculo novamente. Pensando sobre o absurdo da vida simples. Só queria dizer que sofri algumas perdas esta semana. E dói tanto dizer isto. Algumas são coisas simples, outras tão doloridas. Mas por que estou falando tanto em perdas? Porque talvez perdi demais. Só posso falar de algo que aconteceu agora, pouco tempo.

Perdi mais um cachorro. E isso não é pouco. Era a Magrela. Ela se foi. Sem ao menos qualquer elaboração minha. Se foi assim como chegou: uma cachorra de rua, sem alarmes, sem surpresas, apareceu, conquistou a todos. E foi. Só foi. Novamente fui eu quem encontrou. Dessa vez doeu menos, pois da última vez foi o Kiko. Doeu a dor de minha mãe. Isso doeu demais. O Kiko era o sonho de minha infância indo embora. A Magrela foi mais uma parte de minhã mãe se indo.

Estou tão triste e não é só por isso. Por tudo. Só por tudo.
Dói a minha solidão. Dói eu mesmo. E essa dor só posso eu encarar.

Trilha Sonara: Carissa's Wierd "September Come Take This Heart Away".

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Mito da Caverna (ou O Estrangeiro)

O tempo se arrasta. Picos de angústia e incerteza. Diversas dúvidas surgem. Não queria dúvidas. Estava começando a gostar das certezas, estas que sempre me foram tão caras... Talvez existam coisas que não consigo enxergar e tantas outras que estejam ofuscando minha visão.

Sempre olhei muito para frente - e isto é quase sempre um incômodo. As vezes por se adivinhar com alguma antecedência algo que só se deveria saber daqui a algum tempo. As vezes por simplesmente conjecturar por antecedência o que talvez nem irá se concretizar. É algo como o mito da caverna de Platão. Procurar um saber implica responsabilidade. Implica ampliar os horizontes de uma forma quase incontrolável e nisso, a liberdade implode.

Lembro-me de uma metáfora de Camus em "O Estrangeiro". Era algo como: a situação em que o homem encontra-se mais livre é a prisão, pois ali não há escolhas. E ter justamente muitas opções é o que restringe nossa liberdade. Parece haver um erro nessa proposição, não? De certo modo não. Quando temos poucas opções, temos poucas dúvidas. O que gera a angústia é justamente não termos o controle sobre tudo o que nos atinge. E procurar por esse controle é o que nos torna neuróticos, pois nunca nos satisfazemos, justamente por haver muitas opções e o desejo de querer provar todas. Ai sucumbimos à angústia. Quando escolhemos um, abrimos mão de outro. E se esse outro fosse melhor? Será que a minha escolha é realmente a melhor? Típicas questões neuróticas.

Quando escolhemos algo, escolhemos a nós mesmo e todo o universo, como diria Sartre. Eis o paradoxo da liberdade. Ao escolher sair das dúvidas intermináveis e encarar a dura e consistente certeza me deparei com outro problema: perdi muito de mim ao abrir mão das dúvidas. E agora não me reconheço mais nelas. Eu esqueci que por mais que se opte pela certeza, as dúvidas não deixarão de existir. Apenas se optou por uma parte da realidade. E agora como ser eu sem eu?

O medo do novo. O medo de conseguir deixar de ser o mesmo velho. "Nada do que não era antes quando não somos mutantes". A angústia não é pelo novo, no por vir. É pela perda do velho, daquilo que se constituiu enquanto certo, e que caso venha a se confirmar, não passou das velhas incertezas e dúvidas, que num passo de ilusão, se camuflaram em certezas. Fracas, inconsistentes, e potencialmente inebriadoras, ilusórias, e principalmente, necessárias.

Trilha Sonora: iLiKETRAiNS "The Voice of Reason" e "Death of an Idealist", ambas do álbum Elegies to Lessons Learnt (2007); Radiohead "The Pyramid Song", "Lucky" e "You and Whose Army", todas Ao vivo em São Paulo; Pedro the Lion "Bands of Managers" do álbum Achilles Heel (2004), "Of Up and Coming Monarchs", "The Longer I Lay Here", do álbum It's Hard to Find a Friend (2001).

domingo, 14 de junho de 2009

A Estrada

Cause I'm writing to reach you now but
I might never reach you
Only want to teach you about you
But that's not you
Do you know it's true
But that won't do

Maybe then tomorrow will be Monday
And whatever's in my eye should go away
But still the radio keeps playing all the usual


Writing to Reach You, Travis


Pegar a estrada novamente? Putz! - pensou Pedro naquele domingo frio. Ele havia feito de tudo para que desta vez conseguisse manter-se pelo menos um ano em um lugar só. Mas parece que tudo havia ruido novamente. E dessa vez não era sua culpa. As coisas para Pedro funcionam da seguinte maneira: por mais que ele tente, se esforce para encaixar-se nos lugares, os lugares não se encaixam a ele.

Naquela manhã Pedro acordou encomodado. Dessa vez a partida seria mais dolorida que de costume. Ele havia se acostumado demais ao modo atual de viver. Está certo que se por um lado tudo era mais parado e corriqueiro - em oposição à vida fugaz e louca que levara antes -, agora ele sentia que havia vivido algo realmente verdadeiro, profundo e marcante, e por isso talvez a angústia.

Perdas. Será uma perda grande. Mas se já foram tantas, o que difere agora? Ele sentia que esta o marcaria para sempre. Era metade dele que ele abanonara naquela manhã. E pensar nisso o fez rememorar todas as outras. O que difere uma grande perda de uma pequena é que aquela traz a tona todas as outras. Todas que fazemos questão de esquecer em cada manhã que acordamos. E justamente nesta manhã Pedro acordou e sentiu o baque. E toda uma sequência de coisas que perdeu surgiram em sua consciência.

Why does it always rain on me?

A música do Travis não saia de sua cabeça. Por que sempre acontece isso comigo? Está certo que tudo isso me fortalece, mas a que custo? O custo de perder-se o tempo todo, de buscar caminhos, de distorcê-los, de encontrar novamente uma saída. Por que diabos só chove em mim!!?

Não havia mais o que se lamentar. A hora chegou. Era preciso levantar-se, juntar o que restou de si mesmo e ir em direção à estrada vazia. Caia uma neblina que gelava mais ainda o carro que custava a pegar. Era preciso que fosse assim. No frio mesmo. Ás 5 e 13 da matina. Não havia do que se arrepender, pois desta vez não dependia dele. Era preciso encarar de cabeça erguida. Pedro já não sabia mais, de todos os pedaços perdidos, qual iria sentir mais falta. Talvez aquele que nos ultimos meses representou quase a totalidade dele, e que ele não sabia mais diferenciar se era uma parte ou ele próprio. Este sim iria doer. E era ele que o fez ter que fugir, encarar uma estrada que há muito não pegava.

A velha conhecida e solitária estrada.

Trilha Sonora: Travis, álbum "The Man Who".