quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mulher

Aquele homem abusou de mim. Arrancou minha roupa, rasgou minha calcinha. Deixou-me nua naquela escuridão.

Invadiu meu corpo todo. O percorreu, centímetro por centímetro, com sua língua exploradora. Bebeu todo o meu líquido. E quando eu não agüentava mais, penetrou-me sem dó. A cada investida eu perdia um pouco de consciência – e de minha decência.

Eu já fui pura, juro que tentei. Até aquele dia nenhum homem havia me possuído assim. Eu não deixava – eles não eram capazes disso. Eu era toda “fechadinha”, orgulhava-me disso. Tão tímida.

Tentei ficar quietinha, nunca fui de escândalo, mas não suportei a intensidade. Gemia sem controle – e ele percebendo, aumentava a velocidade. Falava palavrões, chamou-me de todos os nomes sujos possíveis. Levei tapas, puxões de cabelo, mordidas em todo o corpo. Isso foi demais para mim. Começou com um leve tremor. Senti meu corpo todo amolecer, achei que ia morrer. Eu não tinha mais domínio sobre o meu corpo. Ele poderia fazer o que quiser de mim, pois não tinha força, nem vontade, de parar com aquilo.

Quando eu achei que tudo havia acabado, esparramada na cama - podia sentir todo o meu líquido saindo de dentro de mim - ele não havia terminado. Puxou-me pelo cabelo, o introduziu todo em minha boca. Senti-o pulsando. Parecia que ia explodir. Ele segurou minha cabeça e fez-me beber todo o seu néctar – era docinho. Deitei em seu peito e, pela primeira vez, senti-me mulher.

sábado, 27 de novembro de 2010

Sentir

Um corpo pulsa. Uma mente tenta negar o tempo todo. Tenta-se uma explicação lógica para algo que o próprio corpo tenta compreender. E não há. Razão - Sublimação. Não dá? Como sufocar o que estou sentindo agora. Não sou eu. Fantasma? Não. Nunca me abri para isto. Sempre fugi. Fugindo. Mas que porra é essa? Pode explicar-me?

Perdido. Dentro de mim. Desejo, desejo, desejo. Por que sou assim? A preço de que? Já quis ser tanta coisa. Hoje sou algo. Mas luto ainda, contra mim mesmo? Live and let die. Tudo caminha para algo tão certo. Mas alguém questionou o que é o certo?

Vagando dentro de mim sentimentos que nunca puderam ser experimentados. Como consegui por tanto tempo? Talvez há de vazar. E ai não há mais o que fazer, a não ser: somente sentir.


sábado, 20 de novembro de 2010

Ultimamente as coisas andam tão estranhas... da vontade de nem escrever - e nem escrevi mesmo! Tenho a leve impressão de que quando não escrevo é porque a vida simplesmente andou... seguiu, aconteceu como deveria ter acontecido. Ou não. Só andou, e o maluco aqui não quis pará-la e perguntar: "what's happened my friend?
Ah sei lá. Estou em Curitiba agora. Terra da teoria e depressão. Mas estou bem! Como Porto União me fez bem... Ela não fez nada. Só eu resolvi buscar minha própria vida e deu certo. E não é que eu levo jeito para isso! - doce constatação. Ah se eu soubesse que ser feliz é legal assim, eu tinha pensado nisso antes. Só achei amigos. Achei alguém que me ame. Achei uma cidade que me quis. E precisa mais?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sós?

E o Sigur Ròs insiste em tocar. É a terceira música que o aleatório escolhe. Teve Radiohead antes. Mal indício? Volta a um passado não tão longínquo? O passado sempre é anacrônico, nunca se encaixa completamente ao presente, nem rende muitos links com o futuro. Essa construção sempre é única e própria. E nem sempre desejamos fazê-la.
O estar só ganha novo sentido. É físico, espacial. Não é mais uma escolha. Mesmo as vezes querendo. Muitas vezes é bom e é preciso. Acredita-se que sozinho é possível encontrar-se consigo mesmo. Nem sempre é assim. O outro é espelho e é tão difícil compreender isso. Só, tenho apenas a representação de mim mesmo. No outro é bem mais complicado. É sua própria voz reverberando após passar por um filtro. É sua imagem voltando para si vinda de um estrangeiro. Não tem escape. Já de si mesmo podemos fugir o tempo todo. Da demanda do outro não. Enfim, com o outro encontramos uma parte de nós mesmos que talvez não queiramos ver, mas ela não cessa de se mostrar, ao contrário do contato com nossa solidão que evita a todo custo nos expor... Talvez por isso muitos escolham a si mesmos, ou a solidão como preferem dizer.
Somos mais nós mesmos com o outro ou sozinhos?

Trilha Sonora: Sigur Ròs "Með suð í eyrum við spilum endalaust" Album.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Co-dependência

Acabou-se tudo. Guarde essas coisas. Ele já se foi. Foram meses de agonia, de insônia, de duros sentimentos de pena. Não sei o que doía mais se era o seu corpo definhando ou minha alma sendo consumida. Sua dependência já não era física, era existencial. Ele entregava-se à morte ao mesmo tempo que me arrastava junto. Seria isso necessidade ou simplesmente narcisismo? Eu não sei. Apenas que acabei adentrando nesse mundo perturbado, sem saber onde eu estava, onde larguei meu corpo e deixei minha alma prosseguir.

A cama dele fedia. Não era apenas suor e incontinências fisiológicas. Era os restos de um ser humano vivo em decomposição. Era o cheiro da angústia, a mesma que o paralisava, o deixava cada vez mais entregue à morte. Mas havia eu impedindo um ciclo natural de auto-destruição. Havia o desejo dele de que alguém cumprisse esse papel. E eu cumpri. Como ninguém. Abandonei uma existência medíocre para tentar salvar alguém a beira da morte. Ali eu poderia ser alguém, poderia representar tudo o que alguém precisa. Mas ao custo de anular-me? Reduzir meu desejo a satisfazer um outro que suplica por migalhas de amor humano? Há existência possível ai?

Para ele os últimos lampejos de vida, de humanidade, era isso que eu representava. Para mim, algo maior e mais digno que apenas me entregar a compulsão, a busca insaciável de algo que preencha o vazio que há dentro de mim. Um vazio de amor, dignidade, compreensão. Era ser alguém para alguém e não um resto.

Sei que nesse tempo me perdi. E quis isso. Quis me apagar, quis que toda minha realidade sumisse. Que meu Eu explodisse. Que meu desejo cessasse. Que minha vida desaparecesse. Mas esse lento tormento que surge a cada respiração, essa doce agonia que me invade e preenche minhas entranhas não para de pulsar. E só um vazio maior que o meu para poder aliviar. Só a desgraça maior pode me consolar. E nesse mundo de dor, mas uma dor não minha, que busquei refúgio. A dor dos outros sempre é menor, por maior que seja. E agora que ele morreu, me dê uma razão para existir. Algo para amar. Algo para me sentir uma mulher novamente.

Trilha Sonora: Portishead "Third"; "Live in Roseland".

terça-feira, 22 de junho de 2010

O "Novo" e o "Velho"

Eis que um vazio bate repentinamente. Está certo que de forma diferente. A velha angústia, amiga de tantas outras vezes, já não parece ser a mesma. É algo como uma "parada para reflexão". O que aconteceu nesse tempo todo? Tudo foi tão rápido, tantas mudanças num curto espaço de tempo (quase um ano). A alma que estava desgastada de tanto riscar o mesmo chão se questiona: esse ainda é você? Era tão ruim ser o que se era?

Não. Não era mesmo. Sempre houve algum prazer, mesmo que na dor e na pura angústia. Nos prazeres etílicos, nas entregas ao estupor e aos devaneios. Numa vida que era mais fantasiada do que vivida, e por isso mesmo, de algum modo mais ideal. O real passava pelas bordas, ora assustando, ora apenas sendo negado.

Sou eu mesmo? Sim, sou. Um outro, nunca somos os mesmos. Mas sempre há algo que aponta para uma fixidez, para um traço de ser e existir. E qual é esse agora? Talvez seja essa a pergunta: o que sou de agora que corresponde ao que sempre fui? Volto a me questionar após meses de entrega a vida cotidiana, ao simples viver e deixar viver (let it be). Foi bom? Ótimo.

Mas parece que uma parte de mim precisa ser resgatada, algo que se perdeu em um passado próximo. Mas o que? A reflexão, a angústia, a entrega ao nada. Ainda me incomodo com o controle maior da pulsão, questiono até que ponto isso é meu. Uma vida totalmente correta e espontânea, não era isso que eu queria? E agora, por que a dúvida, a velha interrogação que surge quando menos se espera. Esse é um traço meu, mas já quis tanto tempo livrar-me dela. Mas ela surge toda vez para demonstrar que ela é parte daquilo de mim que não posso simplesmente me livrar. E tome Sigur Rvòs novamente!

Trilha Sonora: Sigur Ròs "()".

domingo, 20 de junho de 2010

Bruno e o Sonho

Todos estavam lá. Seria o Dia das Mães? Cada um com sua lata na mão, uma leve alegria. Papo com um primo, uma piada do tio. É o Bruneco! - " Quanto tempo não te via rapaz, que saudades!". Alguns goles de cerveja. Todos riem. A Vó tá quieta, mas parece feliz. Luizão e Reinaldo discutem política perto da churrasqueira onde Pudim assa carne. Tio Chico vai buscar um cd pra melhorar o clima. Cami traz um tubão fortíssimo e me oferece. Pequeno manda um gole e brinca. As tias conversam na cozinha enquanto a Vó termina a maionese. Chega Zu e Celso com a estrela da festa: Caio - todo lindo com sua roupinha de bebê. É um domingo delicioso, nada diferente, mas tudo como deveria ser. Eu converso com Bruneco, ele está do mesmo modo de sempre: animado, carismático, sorridente.
- Luiz, o Bruno tá morto cara.
- O quê?
- Ele tá morto, isso é um sonho.
Dor. Todas as imagens somem num redemoinho. Eu desperto em pranto. Lágrimas escorrem. Cadê você Bruno? Por que sumiu assim? Eu queria tanto que aquilo não fosse um sonho. Por um minuto eu vi ele novamente. Fazia tanto tempo que não o via, e a última vez foi aquilo? Só posso pensar uma coisa disso, que somente assim consigo lembrar dele, seja em sonho, seja em memória: alguém vivo, acima de tudo alegre, parceiro. Que sonho doloroso e doce ao mesmo tempo, por segundos vi ele novamente vivo ali, como em uma cena que vivi várias vezes, como todos os Dias das Mães que ele tava lá, e que eu achava mais um dia comum. Agora lembrarei como um dos poucos dias do ano que eu o via, e como era bom... Como era bom ter você lá primo.
Saudades.

"My drive is so far away..." - Blue Thunder, Galaxie 500.
"How we break each other's house, isn't it a pitty?" - Isn't it a pitty?, Galaxie 500.

terça-feira, 23 de março de 2010

Caio e a alegria de viver

Você veio ao mundo para nos ensinar a contemplar a vida, simples como ela é, linda assim como você veio. A sua espera foi longa e até dolorida. Anseios e aspirações, sonhos e esperança. Você ainda nem tinha nascido e já significava tudo isso.
A vida não para de pulsar e para aqueles que acreditam nela, que sabem que sempre haverá o clarear do dia, logo após uma longa noite de escuridão, há um presente único, fruto da dedicação e da coragem, algo que só quem sonha pode usufruir.

Você Caio é assim, resultado de uma conjunção de coisas boas, de um amor único e profundo, sonho sonhado por muitos que estarão ao seu redor e que depositam em você nada menos que a esperança, a confiança de que a vida ainda é bela. E isso não será um peso para ti, pois a força e o amor de seus maravilhosos pais sempre estará contigo.

Sentir seu coraçãozinho batendo, seu corpinho fofo se espreguiçando, seu ar de "estou curtindo muito tudo isso", não tem palavras. Apenas sensações, emoções que não consigo significar aqui. Um dia eu escrevi nesse mesmo blog meu sobrinho e afilhado, que "da chuva que cairá como brisa, e do sol renascendo atrás das nuvens surgirá o arco-íris". E no dia que você nasceu esse arco-íris apareceu, e no fim havia um pote de ouro. Esse pote meu querido Caio, é você.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Deja Vu

O que me importa
(Tim Maia)

O que me importa
Seu carinho agora
Se é muito tarde
Para amar você...

O que me importa
Se você me adora
Se já não há razão
Prá lhe querer...

O que me importa
Ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis
Você nem mesmo soube dar
Amor!...

O que me importa
Ver você chorando
Se tantas vezes
Eu chorei também...

O que me importa
Sua voz chamando
Se prá você jamais
Eu fui alguém...

O que me importa
Essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais
Tristezas prá chorar
Que o seu!...

O que me importa
Ver você tão triste
Se triste fui
E você nem ligou...

O que me importa
Seu carinho agora
Se para mim
A vida terminou