domingo, 27 de setembro de 2020

Este texto não é sobre um adeus...

 "A única constante na vida é a mudança". Não sou adepto de frases motivacionais. Mas esta máxima resume a dinâmica da vida. Ela simplesmente deve acontecer, e para isso precisamos deixá-la seguir o seu rumo. 

Daqui há sete dias estarei retornado à Porto União. Essa semana foi intensa demais. Em meio à mudança de casa, uma pandemia em curso, dois filhos em quarentena, despedidas incompletas... 

Hoje deveria estar acontecendo uma festa daquelas no Bar do Vinil - cantinho que com tanto amor eu montei para ouvir meus discos, receber meus amigos e familiares e onde aconteceram festas legendárias! Mas devido a essa maldita pandemia não poderei me despedir da forma que mais gostaria: com festa, com todos ao redor da churrasqueira, risadas e alegria. A vida é uma festa! (assim descrevi um capítulo de minha dissertação).

Foram oito anos vivendo na querida Lapinha. Cidade que me acolheu de braços abertos quando cheguei. Lembro do primeiro passeio que fiz com a Hilda e o Floquinho (naquela época a nossa família tinha só três membros!), logo depois de terminada a nossa mudança. Era Festa de Santo Antônio e nos surpreendemos de estarmos morando ao lado da Praça onde ocorria.

O primeiro dia de trabalho no antigo Fórum. Eu sentia-me como um alienígena. Muitos se perguntavam o que um psicólogo estava fazendo ali. E foi ali que fui calorosamente recebido por muitos: a Gracia e sua família (que logo me convidou para a tradicional festa junina na chácara de seu pai), o Ivacir e sua simpatia contagiante, a Flavinha da qual a incubiram de me passar o que seria o trabalho (ela já era a referência de infância na Comarca). A Adri, a Daí, a Carla, o Fio, o Dr. Paulo (figura ímpar) e logo fiz um grande amigo, Rafael. Na sequencia vieram Ge, Juliana, Giovane, Dila. Todos amigos para uma vida (sinto não poder citar todos que fizeram parte dessa história).

Fui o primeiro psicólogo da Comarca e tive que começar do zero a construir um referencial e um norte para a atuação. Nesse início o pessoal do CREAS foram fundamentais: Liziane, Dika, João, Rosângela, Aracéli (e outros tantos) que me cederam uma sala para os atendimentos. Muito estudo, trabalho e quebrar a cabeça para fazer um novo serviço começar. Foram anos riquíssimos, experiências únicas.

Veio o Fórum novo. Lindo, duas salas enormes com ar condicionado (um luxo, como diria Dr. Paulo!). E eu sozinho ainda. Veio a Cristiane de Rio Negro, em um momento delicado de sua vida. Permuta com a Cintia e logo tínhamos uma equipe! (hoje completa com a chegada da Aline).

Nesse meio tempo organizei o fluxo de atendimento às vítima de violência sexual a partir do Protocolo de Contenda (que considero a grande realização do meu trabalho na Comarca da Lapa). Marilisa, Kelly, Pâmela, Ivan, Rubi, Cris e toda a Rede de Proteção de Contenda confiaram no meu trabalho de consultoria e hoje o Protocolo é Lei Municipal! 

Ao mesmo tempo que o trabalho foi se desenvolvendo e crescendo, fiz outros queridos amigos (Teko e Bel, Aleson, Nogueira, Alessandro, Wilian), colegas que passaram e se foram. Logo nossa família foi acolhida pelas famílias de nossos amigos . A Gabi nasceu e foi estudar no Educandário. Agora chegou o Luizinho. Ambos lapeanos. Criei raízes aqui das quais sempre retornarei para revê-las.

Essa é a minha terceira mudança. A primeira de Curitiba para União da Vitória foi simples e aliviante. Parti com meu Ford Ka e uma mala (cheia de ilusões, como na música dos Mutantes). Iniciei minha vida profissional lá e conheci a mulher de minha vida. 

Nossa segunda mudança não foi difícil. Já foi um caminhãozinho com algumas mobílias. Jovens, cheio de sonhos e planos, sem medo de viver a vida e construir uma história. E foi uma linda história aqui! Cheia de afeto, trabalho, alegrias e também perdas. Mas completa. Nossa família cresceu, nós envelhecemos um pouco e agora precisamos seguir.

Por isso essa terceira mudança não está sendo tão fácil. Em meio a uma pandemia, acelerada por questões de trabalho e com pequenas despedidas abruptas. Agora será um caminhão grande, quatro pessoas, dois cachorros e muita tralha! 

Gostaria de que essa mudança fosse com muitas festas, abraços, churrascos e muita cerveja! Mas terá que ser assim. O que não significa que não voltarei para fazer as festas após a pandemia (e arrumem lugar para isso meus amigos!).

Partiremos da querida Lapinha com os corações cheios de esperança e ao mesmo tempo já com muitas saudades de todos que aqui conhecemos e hoje amamos. Pessoas, histórias, lugares incríveis que aqui conhecemos. E voltaremos muitas vezes para nos reencontrar (assim como os quero em Porto União!).

Por isso que esse texto não é sobre um adeus, mas sobre um até logo... e muita gratidão!


Fuga nº. II (Os Mutantes)

Pôr-do-sol no Fórum da Lapa

Hoje eu vou fugir de casa
Vou levar a mala cheia de ilusão
Vou deixar alguma coisa velha
Esparramada toda pelo chão
Vou correr num automóvel enorme e forte
A sorte e a morte a esperar
Vultos altos e baixos
Que me assustavam só em olhar
Pra onde eu vou, ah
Pra onde eu vou, venha também
Pra onde eu vou, venha também
Pra onde eu vou