terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Carta a um amigo triste

Para um amigo especial,

Hey, ela te deixou com o coração em pedaços novamente?
Destruiu aquilo de mais belo que você tinha?
Seus sonhos e aspirações,
Seu amor, sua confiança.

Eu falei, tu és um ingênuo
Que a alma humana padece.
Que os sonhos acabam.
A realidade transcende o poema.

Por que ela fez você acreditar neste sonho?
Fazer você viver uma mentira.
Jogar o seu jogo sujo.
Brincar com a sua vida.

Ela te trocou por si mesma?
Humanos são assim. Quando tudo se oferece, eles nada querem.
Quando você se abre totalmente, eles fogem.
Quando demonstra o que de mais puro você tem, recebe o nada como troca.

Você é virtuoso demais para estar assim.
Por muito tempo foi subjugado.
Aos poucos foi sendo destruído.
Covardes não dão o golpe final.

Você caiu, está mal.
Seu horizonte sumiu.
O dia de repente escureceu.
Deixa a noite passar, tudo ficará bem.

Eu sei que agora só há a dor.
Ressentimento, mágoas e o rancor.
E que o ódio te conforta,
o que era para ser o amor.

Você é forte, superará.
Você merece somente o melhor.
Não deixe-se abater. Ela não merece seu sofrer.
Você conseguirá. Todos acreditamos em ti.

Fica bem meu amigo.
Deixa as lágrimas surgirem. Deixa teu peito doer.
Agora só o tempo irá lhe curar.
E fazer com que você volte a ser a alma bela que era.

Trilha Sonora: Remy Zero, "Fair"; Modest Mouse, "Trailer Trash"; Nada Surf, "Inside of Love".

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Across the Universe

Questionado uma vez por que era tão só, Jonas respondeu: “somente dentro de mim encontro alguma compreensão. O mundo se apresenta complexo demais para mim”.
Em seu apartamento, discos de Jazz, livros de filosofia, litros de vodka. Um quadro de John Malkovich. Jonas era escritor, escrevia textos que só ele compreendia e que os críticos interpretavam como “metáforas da vida cotidiana pós-moderna”.
Circulava pelos meios artísticos em busca de bebidas e, se possível, uma transa com alguma tiete acadêmica de Letras da UFPR. Não era bonito, se vestia mal, mas tinha algum estilo e um ar de quem não quer nada da vida. Isso atraía certas mulheres que buscavam preencher o vazio existencial de suas vidas mesquinhas.
Em uma festa de lançamento de um livro de poesia concreta, uma garota se aproximou enquanto ele sorvia a sétima dose de martini. - Que bosta esses drinks, não há vodka por aqui? – pensou.
- Li o seu último livro. Você tem uma compreensão absoluta da alma feminina...
- É? Não sabia disto.
- Além de lindo é modesto? Que graça...
- Você está com alguém? Quer dar uma volta?
Jonas acordou com uma puta ressaca. Sua última lembrança era comprando uma garrafa de vodka no Mercadorama com uma garota. Acordou só. A moça deve ter vazado. Encontrou um cigarro pela metade no cinzeiro, acendeu e foi até a janela. Os dias começam estranhos quando se acorda sem saber como foi dormir.
Uma batida na porta. Era Sonia, uma amiga prostituta que morava no andar de baixo e que às vezes aparecia para fumar um. Jonas não curtia maconha. Mas sempre comprava. Gostava que Sonia aparecesse para trocar algumas palavras.
Ele a considerava brilhante. Era bonita, desenvolta, tinha uma visão obscura da vida, era totalmente irônica com tudo. Caiu na vida quando seu marido, um rico empresário paulista, a abandonou com sua filha e foi morar com uma linda garota que chegara do interior.
- E ai, como foi sua noite? – perguntou Sonia.
- Não lembro. Pelos rastros, uma garrafa de vodka e alguma companhia feminina que deve ter fugido em alguma hora da madrugada. E você?
- Fiz 500 ontem. Acordei em um apê no Mercês com mais uma garota e um velho pançudo.
- Já paga o alguel.
- É.
Jonas já fora casado. Viveu quatro anos com Ana. Foram os melhores anos de sua vida, pelo menos para ele. Ana nunca se sentira satisfeita ao seu lado. O considerava muito jovem, um imaturo. Frente ao impasse de Jonas em ter um filho, o abandonou e foi curtir a vida. Casou com um engenheiro quarentão e hoje vive bem no Rio. Nunca mais se falaram e após o ocorrido Jonas se fechou e caiu no mundo.
Sonia só confiava em Jonas para cuidar de sua filha, a doce Beatriz. Muitas vezes a deixava com Jonas quando saía batalhar. Quando ele cuidava de Beatriz não bebia. Nem fumava para não prejudicá-la. Mesmo quando esteve afundado no pó Sonia confiava nele, pois ele não usava nada quando estava com a menina. Jonas tinha um amor quase paternal por ela. Porém a cuidava com uma atenção metódica, evitando toda e qualquer forma de envolver-se. Sonia o compreendia. Aliás, a única.
- Eu quero dormir abraçada com você.
- Por que Sonia?
- Porque me sinto só, me abraça?
Dormiram abraçados. Jonas ficou por horas acordado sentindo o calor do corpo de Sonia. Lembrou de Ana. Da forma como o abraçava, da segurança que ele sentia passar. Sonia dormia leve, alguns suspiros e a sensação de que naquele momento ela respirava livre. Sentiu lágrimas escorrem em seu peito. Ela só queria aquele momento de conforto. Jonas só queria suas lembranças novamente. Era só o que ele tinha.