domingo, 16 de agosto de 2009

O Jogo (ou a volta da Vida Pôquer)

Uma tarde vazia. Um início de noite vagaroso. Perspectiva de uma semana qualquer. Pouco a acontecer, a não ser que algo mude repentinamente. São coisas da vida.

Não sei o que esperar. Nunca o incerto foi tão presente. É bom. É ruim. A liberdade é também sufocante, em alguns momentos. É como uma mulher insuportavelmente linda e arrogante. É perigosa, misteriosa. Esconde o jogo o tempo todo. Disfarça, dissimula. Nunca se sabe realmente a sua intenção, a não ser que você se jogue e pague para ver. É o famoso preço da liberdade (vide o post Cronica da Vida Pôquer).

Jogar, é o que resta. São poucas fichas, mas há a possibilidade de ganhar várias outras. Ou não, perder, e se recompor novamente.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

We Carry On

Garganta seca. Angústia ou sede? Passou a noite naquele boteco cheio de putas. O olhar fixo para fora do bar. Caia uma chuva pesada. Dentro, aquele cheiro característico de zona o enojava. Já era seis da manhã. Era agora. Tomou um trago e acendeu o último cigarro. Saiu calmamente do bar e entrou no Passeio Público. A chuva havia parado. O único som que distorcia o silêncio era os pássaros agitados.

Ele tinha certeza de que ela estaria em casa. Era ali o seu ganha-pão. Seu único receio era encontrar mais alguém por lá a essa hora. Ele precisava libertar sua alma, mesmo que isso custasse aprisionar seu corpo - paradoxo cartesiano. Estava decidido. Não há certeza maior do que virar uma noite bebendo a procura de uma resposta e às 6 da manhã ela ainda parecer a mais correta. Subiu as escadas húmidas. A porta sempre estava apenas encostada. Garrafas, seringas, e caixas de papelão pelo chão.

O revolver carregado. Uma bala. Era o que precisava. Duas o matariam também. Entrou no quarto escuro. Parecia haver ninguém. Ao lado da janela escancarada percebeu a silhueta de uma mulher. Era Janaína, ele tinha certeza. Engatilhou a arma, apontou. Sua mão tremia sem parar. Lágrimas escorriam de seu rosto. Não conseguia fixar a mira. Foi se aproximando. Ela parecia dormir. "Acorda, levanta daí!" - gritou. Nenhuma resposta. Um chute em suas costas. Nada. Arrancou o cobertor, Jana estava nua, branquíssima. Os olhos estourados. Seringa cheia de sangue pendurada no braço. Era tarde demais.

Um tiro no escuro.

Trilha Sonora: Portishead: "Hunter", "We Carry On", "Roads"; Pedro the Lion: "Bands with Managers".