Quando a vida liga o seu modo automático e o passar dos dias torna-se um continuum intercalado por pequenas quebras na rotina. Aquela sensação de estar apenas indo, deixando a vida te levar, sem saber ao certo onde irá dar.
De repente, nesses intervalos, ter a sensação de que não há outro sentido além de tocar adiante. O tempo corre, e escorre pelas mãos. A fome de viver já não é mais a mesma, embora tente-se lutar todos os dias atrás dela. Onde ela estará?
Eu sei, é preciso matar um leão por dia. Começar tudo de novo a cada momento. Buscar saídas, modos de satisfação. O peso do mundo vai maltratando aos poucos, e tenta-se fugir (ou amenizá-lo) a todo momento.
Satisfações substitutivas, breves fugas da realidade. Tempo desperdiçado no mundo (imaginário) das redes sociais. Viver a vida dos outros. Sonhar com a vida dos outros, enquanto a sua é também emulada nos filtros de fotografia e stories previamente pensados.
Pequenos momentos de diversão planejada, retratados nos posts de viagem ou naquele restaurante estrelado do Tripadvisor ganham o status de ápice da felicidade. É a recompensa por horas dedicadas e abdicadas devido ao trabalho e a vida frenética. Ilusões (des)necessárias.
O pior é olhar tudo isso e querer achar normal. Ver algum sentido além. E não há. Onde está a essência, se a existência à precede? Esse modo de existir seria o único possível agora?
Onde antes havia subterfúgios, fugas corporais e alguma contemplação, não há mais. Onde construir um novo sentido? A trilha sonora continua tocando, quase sempre presa ao passado. As vezes lutando para resignificar o agora.
Tempos sombrios. O mundo explode inflado pela irracionalidade e o culto à bestialidade. Nunca a ignorância ocupou tão bem um lugar de defesa frente ao absurdo. Acreditar em tudo o que se quer acreditar, menos no real.
As pessoas estão deprimidas por não conseguir (ou querer) sentir. Aí só resta fugir.