sábado, 29 de setembro de 2012

Um minuto a mais?

Vó, você poderia ficar mais um minuto? E o que faríamos neste último minuto? Sei que teve a vida toda para aproveitar, e que fez isto como ninguém. Mas eu queria apenas mais um minuto com você. 

Tudo está lembrando a ti. Está difícil acreditar nisso. Os dias arrastam-se como se nada acontecesse. Toda hora pego-me pensando que tudo está da mesma forma. Que você está em algum lugar e logo chega. Que é mais uma daquelas situações em que você não atende o celular e nós ficamos loucos ligando atrás de você. Provavelmente deve estar na casa da Tia Antônia. Logo você chega com sua Kombi e tira sua caixa de Antártica Subzero e senta-se ao lado do fogão à lenha. E nós que estávamos putos contigo ficamos alegres e aliviados de ver que você está ali, como sempre.

Mas você não está lá. E eu estou aqui na Lapa pensando nisso. No quanto isto dói. No quanto todos devem estar sofrendo em Curitiba por tudo isso. Aqui parece que o tempo pára, mas quando chego lá tudo volta. E você continua não estando lá. E minha viagem torna-se mais longa, e a dor volta a aparecer. E ela terá que surgir. Só assim podermos superar, aquilo que tua ausência força-nos a vivenciar.

Da lembrança dos teus leves sorrisos, da tua presença forte, da alegria de te encontrar e abraçar, de tudo isso deve brotar uma vontade maior de viver, de superar tudo isso. Sua energia era a base de tudo e deve continuar. Vai sim. Eu acredito. Mas eu queria poder ter apenas mais esse minuto com você. E por isso essa música dói tanto. Só queria isso. Agora. 

Trilha Sonora: "A minute longer" - Stereophonics.

sábado, 22 de setembro de 2012

Vovó

Para Maria Stacechen (1935-2012), 
Um anjo iluminado

"Do nossos planos é que tenho mais saudades. 
Quando andávamos juntos, na mesma direção. 
Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?"

"...vai ser difícil sem você, 
por que você está comigo o tempo  todo, 
e quando vejo o mar, existe algo que diz,
 que a vida continua e se entregar é uma bobagem..."
(Vento no Litoral - Legião Urbana)

Você se foi e um enorme vazio tomou conta daqui. Você estava em tudo. A dor que ficou preenche todos os espaços. Tudo lembra a ti. 

Das doces lembranças da infância. Dos bifes com batata frita na casa do Portão. Dos cafés da manhã no quintal, junto dos cachorros que eram praticamente sua extensão. Das viagens inesquecíveis de férias em Morretes, quando fizemos uma cabana e levamos o Kiko e o Branquinho. Da vez que estranhos vieram buscar filhotes e eu e a Cris nos escondemos no mato com os dois cachorros. 

A lembrança mais antiga que tenho de você foi um dia em que a mãe havia brigado comigo. Eu deveria ter uns 5 anos. Entrei no quarto e revoltado joguei tudo no chão. Você apareceu e disse: "joga tudo, descarrega toda sua raiva, bota isso pra fora!" E eu fiz, fui me acalmando aos poucos. Aquele dia comecei a compreender seu espírito libertário, de não querer se adequar a nada, de ter uma autonomia e independência. 

E você foi a vida toda assim. Por mais doce que fosse não deixava de seguir o seu próprio caminho, de não querer depender de ninguém. Como isso me ajudou a ser quem sou hoje vó! Você não sabe como. Tentei herdar sua doçura, ao mesmo tempo combinada com um espírito livre, independente. Tinha uma sabedoria que ultrapassava disciplinas. Não era ciência, era vivência. E como nos respeitávamos! Mesmo eu sendo um acadêmico, nunca discutimos. Eu ouvia atentamente seus dizeres. Não posso deixar de lembrar minha defesa de Mestrado, em que a Vó corajosamente levanta a mão durante a sabatinada e pede para fazer uma pergunta, desconcertado, o meu orientador diz que permite, com uma ressalva: "só a Vó pode". Foi a melhor questão da defesa. Foi direto no ponto, em tudo o que defendi naquele trabalho!

Com o seu sorriso e alegria aprendi a ser feliz, a querer fazer festa sempre. Foi você que ensinou isso. Nunca esquecerei de minha formatura, quando a tirei para dançar a 3ª valsa. Era a da madrinha. E você perguntou-me: "eu?" E eu disse: você é a madrinha da minha formatura!. Naquela mesma noite, lá pelas 5 horas da manhã todos meus amigos estavam estirados nas cadeiras, e você tirava um por um para dançar. É essa a imagem que quero guardar de você. Da alegria, da energia, da vontade de viver incondicionalmente.

E as viagens? Quantas Vó? Manaus, Barra do Saí, Morretes. Onde fosse, você ia. Queria conhecer tudo, viver a vida intensamente. Ver pessoas, ver lugares, ver coisas novas. Essa ânsia de viver quero levar para toda a minha vida. Foram tantas coisas, tantas lembranças. 

Você participou de tudo. Estava em tudo. E agora Vó? Até minha casa na Lapa está marcada. Lembro da alegria e da tranquilidade que você encontrou aqui. Isso me fez tão bem, saber que aqui você ficava tão a vontade. E União da Vitória, quantas vezes você foi para lá. Ficou tão feliz quando eu fui. Você conheceu a Hilda antes de todos, e naquele dia mesmo deu seu aval: "ela é perfeita pra você!". O que mais dizer?

Só a saudade, a dor que agora sufoca. Passei uma semana difícil, tentando fazer de conta que tudo estava bem. Mas hoje a tristeza estourou. Uma agonia, vontade de ligar e saber se sua Kombi andou estacionando por lá... Eu sei que não, mas como eu queria chegar amanhã e vê-la por lá! Demorará ainda para assimilar isso. Acostumamo-nos com a Vovó sempre ali. E agora?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Ressaca

É uma enorme ressaca. E infelizmente não é por abuso de álcool. É de tristeza. É de cansaço, por um fim de semana horrível. Mais uma perda, e esta é muito grande. Gostaria de estar agora escrevendo uma homenagem a ela. Mas é muito cedo, não estou em condições. 

Preciso tocar adiante. Arrastar esse corpo enquanto a alma despedaçada esforça-se para rejuntar os pedaços. Estou ausente, inebriado em algum lugar obscuro tentando encontrar a luz. 

Eu sei, é cedo. Vai ser um longo caminho ainda e sei por onde ir. Mas por agora quero apenas refúgio, esconder-me do mundo que não vem sendo fácil comigo. 

Deixar a dor surgir e amenizar-se aos poucos. Esperar que toda sua energia chegue até nós e que a beleza de sua alma faça-nos sorrir novamente. 

sábado, 15 de setembro de 2012

Recaída

Jonas acordara angustiado. Não sabia dizer porque. Fora tomado por um sentimento nostalgico, algo que há muito tempo não sentia mas que a ele era muito familiar: perdição. Era assim que ele chamava uma vontade de perder-se, sumir. How to disappear completely? 

Uma vontade absurda de isolar-se. Uma garrafa de conhaque, carteira de cigarros, Radiohead e seu notebook para escrever compulsivamente. Era assim que esses dias aconteciam antigamente, mas sua vida mudara muito nos últimos anos. A fase "beat" já era. Estava casado, lecionando aulas na faculdade e vivendo relativamente bem sua vidinha burguesa. Escrevia de vez em quando, agora de maneira bem mais leve que aquela pesada atmosfera de seus contos. Ele sabia que se continuasse naquela vida, apesar de render livros brilhantes, iria logo acabar-se. Após conhecer Julia, uma menina linda que realmente o amava, optou por levar uma vida "normal": casa, emprego fixo, cachorro, churrasco com amigos, visitar a mãe de vez em quando e ir ao cinema.

Tudo estava indo bem. Mas de repente este vazio novamente. O principal de toda essa mudança foi largar o álcool. Ele é alcoolátra e só se deu por isso após ter sofrido um grave acidente depois de uma longa noite de intensa bebedeira. Estava "seco" há dois anos e sabia que qualquer descuido o levaria novamente ao buraco. Ele estava gostando da vida atual, de conseguir relacionar-se novamente, tanto afetivamente como manter amizades, de finalmente enquadrar-se em algum lugar nesta sociedade. Porém havia dias que batia uma saudade da época de loucura, de poder "fazer o que dava na telha" - como ele costumava falar. 

O problema que suas fases de loucura não duravam apenas uma noite. Eram meses até que alguma merda acontecesse e ele parava de beber, voltava a atender o celular e entrar em contato com a realidade novamente. Era nesses episódios que seus livros eram escritos e se não fosse o editor ir atrás dele em algum bar, puteiro ou praia, nada seria publicado. Era uma vida desregrada mas intensa, e era isso que sentia falta agora. Não era dos porres, das confusões e até mesmo dos livros. Era da loucura, da vida sem freio, da postura foda-se-tudo-quero-viver. 

E naquela manhã estranha algo realmente mudou. Deixou um bilhete para Julia, saiu de casa com uma mochila e seu notebook. Parou no mercado em frente à rodoviária. Comprou uma garrafa de Domecq, carteira de Camel e passagem para Porto Belo.

Trilha Sonora: Álbum The Division Bell - Pink Floyd; Radiohead.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Depressão pós-feriado

Eu e minha existência banal. Há dias que eu escolho simplesmente não viver. Explico melhor. Não é querer tirar a própria vida, é apenas deixá-la de lado por um dia. É acordar já esperando que o dia acabe logo. E isso não é viver. É enrolar, escapar, perder-se nas ações mais fúteis possíveis. É ficar vagando pela internet (principalmente Facebook), a fim de encontrar alguma notícia interessante, é ver albuns de fotos de pessoas que você não conhece apenas pelo prazer medíocre de bisbilhotar a vida alheia. 

Nesses dias, quase obrigatoriamente segundas-feira, eu tento fazer de tudo para não fazer nada. Não consigo encarar minhas obrigações mais simples. Postergo tudo. Sonho com o meu sofá que trocarei apenas pela minha cama. Parece deprimente, não? Mas é bom. Pior que é bom. 

Quando trata-se de uma segunda-feira pós-feriado a tendência é os sintomas agravarem-se. Dores no corpo, bocejos constantes. Café, café, água, água. Café de novo. Parece que a mente não quer se ligar, está em standby desde o início do Programa do Faustão no fim da tarde de domingo. Talvez até quarta-feira ela pegue no tranco, quando já começa-se a vislumbrar o próximo fim de semana.

É somos assim. Pelo menos eu sou assim. Minha preguiça atinge as vezes níveis alarmantes. E o que mata não é essa preguiça em si, mas a culpa neurótica de estar disperdinçando (ou seria curtindo?) um tempo útil. Talvez se eu simplesmente deixasse essa preguiça tomar conta de mim e desistir de lutar contra ela eu compreenderia que este é só mais um episódio de depressão pós-feriado.