domingo, 14 de junho de 2009

A Estrada

Cause I'm writing to reach you now but
I might never reach you
Only want to teach you about you
But that's not you
Do you know it's true
But that won't do

Maybe then tomorrow will be Monday
And whatever's in my eye should go away
But still the radio keeps playing all the usual


Writing to Reach You, Travis


Pegar a estrada novamente? Putz! - pensou Pedro naquele domingo frio. Ele havia feito de tudo para que desta vez conseguisse manter-se pelo menos um ano em um lugar só. Mas parece que tudo havia ruido novamente. E dessa vez não era sua culpa. As coisas para Pedro funcionam da seguinte maneira: por mais que ele tente, se esforce para encaixar-se nos lugares, os lugares não se encaixam a ele.

Naquela manhã Pedro acordou encomodado. Dessa vez a partida seria mais dolorida que de costume. Ele havia se acostumado demais ao modo atual de viver. Está certo que se por um lado tudo era mais parado e corriqueiro - em oposição à vida fugaz e louca que levara antes -, agora ele sentia que havia vivido algo realmente verdadeiro, profundo e marcante, e por isso talvez a angústia.

Perdas. Será uma perda grande. Mas se já foram tantas, o que difere agora? Ele sentia que esta o marcaria para sempre. Era metade dele que ele abanonara naquela manhã. E pensar nisso o fez rememorar todas as outras. O que difere uma grande perda de uma pequena é que aquela traz a tona todas as outras. Todas que fazemos questão de esquecer em cada manhã que acordamos. E justamente nesta manhã Pedro acordou e sentiu o baque. E toda uma sequência de coisas que perdeu surgiram em sua consciência.

Why does it always rain on me?

A música do Travis não saia de sua cabeça. Por que sempre acontece isso comigo? Está certo que tudo isso me fortalece, mas a que custo? O custo de perder-se o tempo todo, de buscar caminhos, de distorcê-los, de encontrar novamente uma saída. Por que diabos só chove em mim!!?

Não havia mais o que se lamentar. A hora chegou. Era preciso levantar-se, juntar o que restou de si mesmo e ir em direção à estrada vazia. Caia uma neblina que gelava mais ainda o carro que custava a pegar. Era preciso que fosse assim. No frio mesmo. Ás 5 e 13 da matina. Não havia do que se arrepender, pois desta vez não dependia dele. Era preciso encarar de cabeça erguida. Pedro já não sabia mais, de todos os pedaços perdidos, qual iria sentir mais falta. Talvez aquele que nos ultimos meses representou quase a totalidade dele, e que ele não sabia mais diferenciar se era uma parte ou ele próprio. Este sim iria doer. E era ele que o fez ter que fugir, encarar uma estrada que há muito não pegava.

A velha conhecida e solitária estrada.

Trilha Sonora: Travis, álbum "The Man Who".



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