terça-feira, 16 de junho de 2009

O Mito da Caverna (ou O Estrangeiro)

O tempo se arrasta. Picos de angústia e incerteza. Diversas dúvidas surgem. Não queria dúvidas. Estava começando a gostar das certezas, estas que sempre me foram tão caras... Talvez existam coisas que não consigo enxergar e tantas outras que estejam ofuscando minha visão.

Sempre olhei muito para frente - e isto é quase sempre um incômodo. As vezes por se adivinhar com alguma antecedência algo que só se deveria saber daqui a algum tempo. As vezes por simplesmente conjecturar por antecedência o que talvez nem irá se concretizar. É algo como o mito da caverna de Platão. Procurar um saber implica responsabilidade. Implica ampliar os horizontes de uma forma quase incontrolável e nisso, a liberdade implode.

Lembro-me de uma metáfora de Camus em "O Estrangeiro". Era algo como: a situação em que o homem encontra-se mais livre é a prisão, pois ali não há escolhas. E ter justamente muitas opções é o que restringe nossa liberdade. Parece haver um erro nessa proposição, não? De certo modo não. Quando temos poucas opções, temos poucas dúvidas. O que gera a angústia é justamente não termos o controle sobre tudo o que nos atinge. E procurar por esse controle é o que nos torna neuróticos, pois nunca nos satisfazemos, justamente por haver muitas opções e o desejo de querer provar todas. Ai sucumbimos à angústia. Quando escolhemos um, abrimos mão de outro. E se esse outro fosse melhor? Será que a minha escolha é realmente a melhor? Típicas questões neuróticas.

Quando escolhemos algo, escolhemos a nós mesmo e todo o universo, como diria Sartre. Eis o paradoxo da liberdade. Ao escolher sair das dúvidas intermináveis e encarar a dura e consistente certeza me deparei com outro problema: perdi muito de mim ao abrir mão das dúvidas. E agora não me reconheço mais nelas. Eu esqueci que por mais que se opte pela certeza, as dúvidas não deixarão de existir. Apenas se optou por uma parte da realidade. E agora como ser eu sem eu?

O medo do novo. O medo de conseguir deixar de ser o mesmo velho. "Nada do que não era antes quando não somos mutantes". A angústia não é pelo novo, no por vir. É pela perda do velho, daquilo que se constituiu enquanto certo, e que caso venha a se confirmar, não passou das velhas incertezas e dúvidas, que num passo de ilusão, se camuflaram em certezas. Fracas, inconsistentes, e potencialmente inebriadoras, ilusórias, e principalmente, necessárias.

Trilha Sonora: iLiKETRAiNS "The Voice of Reason" e "Death of an Idealist", ambas do álbum Elegies to Lessons Learnt (2007); Radiohead "The Pyramid Song", "Lucky" e "You and Whose Army", todas Ao vivo em São Paulo; Pedro the Lion "Bands of Managers" do álbum Achilles Heel (2004), "Of Up and Coming Monarchs", "The Longer I Lay Here", do álbum It's Hard to Find a Friend (2001).

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