quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O peso do Eu

Há dias em que o mundo pesa. Após as horas se arrastarem continuamente surge a sensação de que se carrega muito mais que o próprio peso. 

A alma está cheia, repleta de impressões, afetos confusos e principalmente ideias absurdas. 

Ai chega-se a conclusão de que é muito difícil ser-o-que-se-é.

Ser aquilo que você projeta como ideal. O profissional capacitado. O bom marido e trabalhador. A pessoa compreensiva e sociável. O cidadão de bem que paga seus impostos. O “Eu” abrange tudo isso e muito mais. 

Há ainda – e que pode ser muito mais intensa - a pressão interna de querer realmente corresponder a esses modelos, de dar conta e, mais ainda, ser “perfeito”. 

Internamente as coisas se tornam mais complexas. Há um passado que às vezes clama por reparações. Há as expectativas futuras. Há uma cobrança de si que foge da livre consciência. 

Essa apercepção de que há algo te puxando, exigindo cada vez mais, torna-se aparente quando confrontamos nossos desejos com a realidade, e nesse embate surge a culpa, a angústia de não poder-ser-o-que-se-almeja. 

Dói, mas não se sabe por que.

Prefere anular-se a enfrentar os caminhos tortuosos que levariam ao final épico, grandioso e sublime. A mente perde-se em tantos devaneios e artifícios a fim de se suportar o não-enfrentamento do desejo e suas consequências. 

E eis que se chega à questão: por que suportar esse peso? 

Trilha Sonora: Radiohead – Amnesiac (álbum); Remy Zero – “Hermes Bird” e “Life in Rain”; Black Rebel Motorcycle Club – “Long Way Down”.  

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