terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Psicanálise II - ou O bloqueio

(Da série "Psicanálise" - ver "Psicanálise I - ou o retorno do recalcado")

Tenho uma estranha impressão de que me cerco em uma barreira imaginária que me isola dos outros. Como se criasse uma "proteção", um empecilho para que os outros não cheguem a mim - ou pelo menos tão perto de mim.
Sinto que à pouquíssimos consigo confiar uma abertura maior, como se poucos pudessem transpassar esses limites que ergo e realmente conhecer-me melhor. É como se entre o "eu" e o "outro" houvesse um espaço vazio, uma "zona de conforto", em que barro a maior parte daqueles que tentam algum contato maior. E isso as vezes é constrangedor.
Sei que isso tem a ver com privacidade, e também com uma característica minha de ser reservado e até contido. Mas confesso que isso as vezes incomoda. Vejo que muitos realmente se afastam ao sentir esse bloqueio. Sinto que vez ou outra sou mal-compreendido e passo uma imagem de inacessibilidade ou até arrogância. E sei que isso também já foi muito pior e de onde veio, de uma pessoa que admiro muito mas que nunca se abriu totalmente à ninguém. E isso é triste.
Pode ser uma defesa qualquer, narcísica como toda defesa. Pode ser uma tentativa de fuga , de si mesmo , contra uma natureza supostamente inaceitável e que deve ser escondida. Mas acima de tudo lembra-me Sartre, assim como a malfadada castração: "o inferno são os outros", e esta frase tem diversas significações.
O encontro com o outro revela-me, mostra as fraquezas e limitações. Este outro pode vir a conhecer minha verdade, a de que não sou realmente bom como gostaria de ser e de que tanto esforço faço para demonstrar sê-lo.

Corro o risco de perder, e por isso não entro no jogo. Não vou até as ultimas consequências. Preservo minha frágil integridade assim: correndo, afastando, escondendo-me. O contato com o outro torna-se "inferno". Até quando? Há tanto o quê esconder mesmo?

2 comentários:

Anônimo disse...

As vezes me sinto igual a você e É estranho ler palavras que poderiam ter se passado na propria cabeça, mas acho que há uma pequena diferença... As vezes eu sinto a necessidade de deixar alguem entrar nesse meu mundo isolado, sinto vontade de contar aqueles segredos dolorosos, de chorar. Mas então me parece um preço muito alto a pagar, ao qual não estou totalmente disposta.

Amei seu texto, sinceramente amei mesmo.

Bjs, até.

Luizfst disse...

Justamente Tainá, acho que esse preço vale a pena ser pago. É um risco? É sim e acho que o grande prazer da vida é em correr riscos e assumi-los, enfrentá-los e "pagar para ver". Escrevi dois textos que falam mais ou menos sobre isso: http://contosneuroticos.blogspot.com/2009/08/o-jogo-ou-volta-da-vida-poquer.html.
Que bom que gostou do texto, também gostei muito do seu estilo!