Trilha Sonora para este Post:
Uma lembrança antiga fez
despertar imagens que talvez há muito tempo estavam adormecidas: de um ser
passional, louco e inconsequente. Inconformado com todas as regras e
adequações. Um espirito livre em busca de novidades e aventuras em um mundo
inteiro a ser explorado.
Este lado há muito tempo foi
sendo sufocado e na verdade nunca pôde se expressar completamente. Porque este
ser libertário era também amargurado e consumido pela angústia e que por isso
encontrou poucas vezes um lugar para manifestar-se. E o pior que esta prisão
fora criada por si mesmo, sempre buscando subterfúgios para justificá-la.
Tinha a mente cheia de ideais e
desejos, assim como uma vontade absurda de realiza-los e coloca-los em prática.
Mas sempre sucumbiu a alguma força que o reprimia. Andava muito mais à sombra
do que à revelia. Vivia mais em um mundo de ideias do que na realidade terrena.
Por muitas vezes sentia em seu peito uma vontade extrema de explodir, mas quase
sempre acabava implodido.
Por alguns instantes a lembrança
tentou trazer esse lado à tona novamente, e foi muito mais difícil. A rebeldia
e a indignação estão caladas há um bom tempo. Surgem às vezes de forma
civilizada e amena. É possível identificar esse desejo quase apagado, mas
querer provocá-lo novamente é tarefa em vão. Há muito ele vem se apagando para
quase não mais existir.
Sempre houve o medo e a
insegurança, e mais, a sensação de uma iminente autodestruição. Nunca se soube
os limites, e não foi possível chegar perto deles. Mas sempre a porra da
sensação de que algo prendia, que não se poderia viver essas emoções livremente,
e pior, que talvez não se merecesse tal dádiva. E por que não?
O simples deixar fluir e trazer
os sentimentos à tona assustavam. Fugia, desesperadamente. As intensas emoções
o faziam regredir, fechar-se em torno de si e esperar o turbilhão passar. Mas
nunca apenas deixar sair. Quando escapavam, era o terror, o medo, a desilusão.
E por alguns minutos surgiu
novamente a sensação de que esse lado pudesse ainda emergir e, dessa vez,
talvez espontaneamente ter uma existência autêntica.
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