sábado, 15 de setembro de 2012

Recaída

Jonas acordara angustiado. Não sabia dizer porque. Fora tomado por um sentimento nostalgico, algo que há muito tempo não sentia mas que a ele era muito familiar: perdição. Era assim que ele chamava uma vontade de perder-se, sumir. How to disappear completely? 

Uma vontade absurda de isolar-se. Uma garrafa de conhaque, carteira de cigarros, Radiohead e seu notebook para escrever compulsivamente. Era assim que esses dias aconteciam antigamente, mas sua vida mudara muito nos últimos anos. A fase "beat" já era. Estava casado, lecionando aulas na faculdade e vivendo relativamente bem sua vidinha burguesa. Escrevia de vez em quando, agora de maneira bem mais leve que aquela pesada atmosfera de seus contos. Ele sabia que se continuasse naquela vida, apesar de render livros brilhantes, iria logo acabar-se. Após conhecer Julia, uma menina linda que realmente o amava, optou por levar uma vida "normal": casa, emprego fixo, cachorro, churrasco com amigos, visitar a mãe de vez em quando e ir ao cinema.

Tudo estava indo bem. Mas de repente este vazio novamente. O principal de toda essa mudança foi largar o álcool. Ele é alcoolátra e só se deu por isso após ter sofrido um grave acidente depois de uma longa noite de intensa bebedeira. Estava "seco" há dois anos e sabia que qualquer descuido o levaria novamente ao buraco. Ele estava gostando da vida atual, de conseguir relacionar-se novamente, tanto afetivamente como manter amizades, de finalmente enquadrar-se em algum lugar nesta sociedade. Porém havia dias que batia uma saudade da época de loucura, de poder "fazer o que dava na telha" - como ele costumava falar. 

O problema que suas fases de loucura não duravam apenas uma noite. Eram meses até que alguma merda acontecesse e ele parava de beber, voltava a atender o celular e entrar em contato com a realidade novamente. Era nesses episódios que seus livros eram escritos e se não fosse o editor ir atrás dele em algum bar, puteiro ou praia, nada seria publicado. Era uma vida desregrada mas intensa, e era isso que sentia falta agora. Não era dos porres, das confusões e até mesmo dos livros. Era da loucura, da vida sem freio, da postura foda-se-tudo-quero-viver. 

E naquela manhã estranha algo realmente mudou. Deixou um bilhete para Julia, saiu de casa com uma mochila e seu notebook. Parou no mercado em frente à rodoviária. Comprou uma garrafa de Domecq, carteira de Camel e passagem para Porto Belo.

Trilha Sonora: Álbum The Division Bell - Pink Floyd; Radiohead.

Um comentário:

Rafael. disse...


"Uma vontade absurda de isolar-se. Uma garrafa de conhaque, carteira de cigarros, Radiohead "

P-e-r-f-e-i-t-o!