Dias de ócio. Dias de perdição. O contato consigo mesmo é inevitável. Busca-se algo dentro e encontra-se o vazio. Deve haver mais, penso. Mas onde?
Onde foi que nos perdemos? A ciência iria salvar o mundo. Freud também pensou assim - arrependeu-se.
A busca por um lugar onde pudesse existir. Caber, situar-se, pertencer. Os versos de "Creep" caíram como uma bomba nos idos finais dos anos 90. Quem não é dessa geração não compreende o porque dessa música ser um hino daquela geração. "I don't belong here...".
Onde foi que nos perdemos? A ciência iria salvar o mundo. Freud também pensou assim - arrependeu-se.
A busca por um lugar onde pudesse existir. Caber, situar-se, pertencer. Os versos de "Creep" caíram como uma bomba nos idos finais dos anos 90. Quem não é dessa geração não compreende o porque dessa música ser um hino daquela geração. "I don't belong here...".
Eu nunca pertenci a lugar algum. Não sei o que é o sentimento de ter uma origem e um referencial para onde ir. Sou o "Nowhere Man". A sociedade. Os grupos. As modas e os costumes. Nada me serviu como base identitária. Só a música. Pink Floyd e Radiohead dizem mais de mim do que qualquer livro ou teoria. Belchior e Lou Reed. Tim Maia e Kurt Cobain. Neles eu me vi, reconheci ali a mesma angústia incrustada e o horror ao lugar comum, ao establishment e as estruturas de poder.
Eu não compreendo como a grande maioria consegue conceber uma certa normalidade, uma ordem natural das coisas. Não há! Só o caos e a brutalidade. Sim, fomos jogados nesse mundo já rodando. Não há sentido aqui e muito menos fora, no além ou outras dimensões. Elas não existem.
"Fake plastic World". "Crushed like a bug on ground". A modernidade só foi capaz de criar isso. Ela não desenvolveu uma resposta adequada para a angústia. Criou semblantes. Simulacros. Falsos apoios vendidos como soluções mágicas. E isso não pára.
"A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós; proporciona-nos muitos sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-la, não podemos dispensar as medidas paliativas".
Freud acertou em cheio o que seria a modernidade e ajuda indispensável das "medidas paliativas" (leia-se: drogas, sexo, consumismo, ideologias e religião). O mundo é absurdo. É surreal. Quem não vê isso pode ser feliz. Na alienação e na ignorância encontra-se a felicidade. Os poetas já haviam nos alertado.
Você vai ter uma infância bacana cheia de brinquedos e guloseimas. Vai crescer. Vai estudar, encontrar uma pessoa legal. Vai amar e casar. Ter filhos e cachorros. Um emprego estável. Almoço de domingo. Essa é a estória que nos ensinaram e quem não seguir está fadado à infelicidade. Quem não conseguir entrar nesse roteiro irá se foder.
Independente da vida medíocre que você tem, tentando ser esse personagem preconcebido, você vai compartilhar sua pretensa vida feliz nas redes sociais e ganhar curtidas. Fotos de viagens legais. Pratos bacanas que você pode pagar. Vai se irritar com as críticas e desfazer amizades por diferenças políticas. Vai seguir a nova dieta da moda. Vai postar tudo isso com uma selfie e uma frase de efeito de um autor conceituado que você nunca leu - e que provavelmente não é de autoria dele. Sim amiguinho, também estou nessa.
Há saídas? Deve haver. Dentro de mim ou fora. Talvez no Outro.
Fitter Happier - Radiohead
Em forma Mais feliz
Em forma, mais feliz, mais produtivo,
Confortável,
Sem beber demais,
Exercícios regulares na academia
(3 dias por semana)
Se relacionando melhor com seus sócios e empregados,
À vontade,
Comendo bem
(Nada de comidas de microondas e gorduras saturadas),
Um motorista mais paciente e melhor,
Um carro mais seguro
(Um bebê sorrindo no banco de trás),
Dormindo melhor
(Sem pesadelos),
Sem paranoia,
Cuidadoso com todos os animais
(Nunca lavando aranhas nos buracos das tomadas),
Mantendo contato com velhos amigos
(Desfrutar de uma bebida de vez em quando),
Frequentemente checar o crédito no banco (moral)(um buraco na parede),
Favores por favores,
Afeiçoado, mas não amando,
Ordens permanentes de caridade,
Aos domingos super-mercados "anéis viários"
(Não matar traças ou colocar água fervente em formigas),
Lavar o carro
(Também aos domingos),
Já sem medo do escuro ou das sombras do meio-dia
Nada tão ridiculamente adolescente e deseperado,
Nada tão infantil - em um ritmo melhor,
Mais devagar e calculado,
Sem chance de escapar,
Agora empregado de si mesmo,
Em causa (mas impotente),
Um membro da sociedade informado e habilitado
(pragmatismo, não idealismo),
Não vai chorar em público,
Menos chances de doenças,
Pneus que aderem no molhado
(Foto do bebê com cinto de segurança no banco traseiro),
Uma boa memória,
Ainda chora em um filme bom,
Ainda beija com saliva,
Não mais vazio e frenético como um gato amarrado a um pedaço de pau,
Que é levado à merda do inverno congelado
(A capacidade de rir de fraqueza),
Calmo,
Em forma,
Mais saudável e mais produtivo
Um porco em uma gaiola de antibióticos.
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