segunda-feira, 4 de março de 2013

[Série Psicanálise] Alma Melancólica


"The Murderess" (1906) - Edvard Munch

Trilha Sonora para este post: Can't Stop by Elbow on Grooveshark



Tem dias por mais que estejamos bem, dispostos e até alegres, somos tomados de repente por uma sombra. Podem ser sentimentos nostálgicos, certa introspecção ou apenas uma mudança repentina de humor e sensações. Às vezes é uma música que ouvimos que nos remete a um passado que já algum tempo não tomamos contato, e que talvez tenhamos tentado esquecer ou afastá-lo, mas, que mesmo assim, ele insiste em retornar. Ou um flash contendo imagens e sensações que surgem do nada em nossa consciência, deixando-nos assim, meio parados, com o pensamento distante.

Já cheguei a conclusão que existem pessoas, que como eu, tem uma “alma melancólica”, e isso muitas vezes faz muito sentido. Quando penso no mundo de hoje, com seu imediatismo, superficialidade e excesso de informação, vejo-me deslocado, como se vivesse em outro tempo. Tento adaptar-me ao tal ritmo e as diferentes configurações atuais, mas parece que sempre chega uma hora em que falho, penso comigo mesmo: “eu não sou assim, não consigo ser desse jeito”, e então sinto culpa e logo em seguida uma certa tristeza por “ter falhado”.

Quando reflito (a reflexão, outra ação que os habitantes na vida atual tentam desprezar ou ignorar) sobre o porquê desse sentimento, percebo que não há nada de errado em sentir-me assim, que a “tristeza” (seria a angústia o termo mais correto) é condicionante humana e que os tempos modernos tendem  a querer eliminá-la de qualquer forma, e sabemos, ela irá retornar, de alguna forma, talvez como sintoma ( como depressão, ansiedade, fobias e pânico, p. ex.).

Então penso que minha angústia é “sadia”, no sentido de que não quero abrir mão de um sentimento que é o que me faz humano, na medida em que ainda tento sentir e viver este mundo da forma como ele é: imperfeito e incerto, e que uma hora ou outra irei falhar, ou não conseguirei “acompanhar” o ritmo da “carruagem”, e então “cairei”, e por que não, levantarei meio “ralado” e começarei tudo de novo! É assim que as coisas são e livrar-me desta tristeza fará com que eu deixe de realmente vivenciar a complexidade que é esta experiência de existir.

2 comentários:

Luiza Vinhosa disse...

Também sinto essa melancolia. É engraçado como os outros acham que a gente é que tem algum problema por ser assim. Até parece que vivemos num mundo perfeito e que não há motivos para tristezas.

Luizfst disse...

Realmente a tristeza é um sentimento que é cada vez mais afastado e evitado. É uma pena, pois quantas coisas podemos construir a partir dela, não?