"The Murderess" (1906) - Edvard Munch |
Trilha Sonora para este post:
Tem dias por mais que
estejamos bem, dispostos e até alegres, somos tomados de repente por uma
sombra. Podem ser sentimentos nostálgicos, certa introspecção ou apenas uma
mudança repentina de humor e sensações. Às vezes é uma música que ouvimos que
nos remete a um passado que já algum tempo não tomamos contato, e que talvez
tenhamos tentado esquecer ou afastá-lo, mas, que mesmo assim, ele insiste em
retornar. Ou um flash contendo
imagens e sensações que surgem do nada em nossa consciência, deixando-nos
assim, meio parados, com o pensamento distante.
Já cheguei a conclusão que
existem pessoas, que como eu, tem uma “alma melancólica”, e isso muitas vezes
faz muito sentido. Quando penso no mundo de hoje, com seu imediatismo,
superficialidade e excesso de informação, vejo-me deslocado, como se vivesse em
outro tempo. Tento adaptar-me ao tal ritmo e as diferentes configurações
atuais, mas parece que sempre chega uma hora em que falho, penso comigo mesmo:
“eu não sou assim, não consigo ser desse jeito”, e então sinto culpa e logo em
seguida uma certa tristeza por “ter falhado”.
Quando reflito (a reflexão, outra
ação que os habitantes na vida atual tentam desprezar ou ignorar) sobre o porquê
desse sentimento, percebo que não há nada de errado em sentir-me assim, que a
“tristeza” (seria a angústia o termo mais correto) é condicionante humana e que
os tempos modernos tendem a querer
eliminá-la de qualquer forma, e sabemos, ela irá retornar, de alguna forma,
talvez como sintoma ( como depressão, ansiedade, fobias e pânico, p. ex.).
Então penso que minha angústia é
“sadia”, no sentido de que não quero abrir mão de um sentimento que é o que me
faz humano, na medida em que ainda tento sentir e viver este mundo da forma
como ele é: imperfeito e incerto, e que uma hora ou outra irei falhar, ou não
conseguirei “acompanhar” o ritmo da “carruagem”, e então “cairei”, e por que
não, levantarei meio “ralado” e começarei tudo de novo! É assim que as coisas
são e livrar-me desta tristeza fará com que eu deixe de realmente vivenciar a
complexidade que é esta experiência de existir.
2 comentários:
Também sinto essa melancolia. É engraçado como os outros acham que a gente é que tem algum problema por ser assim. Até parece que vivemos num mundo perfeito e que não há motivos para tristezas.
Realmente a tristeza é um sentimento que é cada vez mais afastado e evitado. É uma pena, pois quantas coisas podemos construir a partir dela, não?
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