quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Melancholia - parte II


Carlos acordou assustado ao sentir o toque de alguém em seu braço. Isso era impossível, pois estava só há meses. Ao despertar viu a silhueta de uma criança e ao forçar a visão achou ser Aninha. Logo uma explosão de sentimentos tomou conta dele. Coração disparado, lágrimas e respiração ofegante. Era sua filha, que logo saiu correndo pelo corredor. Sem saber o que fazer foi atrás, gritando o eu nome.

Acabou na praia e quando não mais a viu, se desesperou. Fora mais um delírio, mas este havia sido real demais. Havia quase um ano, desde o enterro, que não a via. Um misto de saudades, dor e alegria. Depois a frustração o tomou. O dia do funeral não sai ade sua cabeça, Por mais que tentasse esquecer e se afundar no álcool, estava preso lá.

Era uma família realizada, quase daquelas de comercial de margarina. Carlos era um jovem professor  que já se destacava na universidade que lecionava. Era muito carismático e ao mesmo tempo muito bom professor, dominava seus temas de estudo como poucos professores mais experientes. Após uma decepção amorosa, um relacionamento de 8 anos que não deu em nada, conheceu Julia, uma jovem fisioterapeuta que acabara de se formar. 

Logo estabeleceram uma relação de cumplicidade jamais experimentada por ambos. Não fora daquelas paixões loucas que sempre acabam em desilusão. Foi um amor que suscetivamente foi sendo construído. Não pularam nenhuma etapa, não cometeram nenhuma loucura. A cada dia sentiam-se mais próximos e apaixonados. Não durou um ano e casaram. 

Mais um ano e chegou Sabrina, a primeira filha. Após a gravidez Julia foi convocada em um concurso estadual e começou a trabalhar em um hospital público. Carlos assumia mais disciplinas e um cargo administrativo na universidade. Parecia clichê, mas a vida do casal corria quase como um sonho pequeno burguês: financiaram uma casa, compraram um cachorro, prosperavam em seus empregos. Dois anos depois veio Aninha, a caçula. 

Carlos gostava muito de beber e Julia até o acompanhava. Normalmente não acontecia nada demais, uma vez ou outra ele acabava exagerando e tomava um porrete, porém nunca ficava agressivo ou cometia besteiras. Pelo contrário, ficava muito engraçado e as meninas caiam na gargalhada com suas palhaçadas. 

Porém, naquela tarde de verão, em um casamento de uns amigos numa cidade próxima, as coisas não se saíram dessa forma.

(continua...)

Trilha Sonora:  "Saviour" - Annelise Noronha

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